sábado, 11 de fevereiro de 2012
Visita a Serra da Lagoa Seca - Acari-RN
Pessoal olá mais uma vez. Depois de muiito tempo estou de volta. Em janeiro ultimo estive em Acari-RN e de quebra visitei a bela Serra da Lagoa Seca no dia 3 de janeiro, localizada naquele município potiguar. Local inesquecível que recomendo a todos que puderem ir visitá-lo. Confira acima as fotos desta incrível caminhada.
terça-feira, 19 de julho de 2011
A morte de Isaías Arruda na estação do trem de Aurora/CE
Por: José Cícero
Todos esperavam o trem que vindo da capital trazia consigo as notícias e as novidades da Fortaleza e do mundo. Era o trem de ferro rasgando as "bibocas" da caatinga, fazendo a ligação da metrópole com a feira de Juazeiro e Crato. Era o jornal e a televisão daquele tempo de atraso, ignorância e dificuldades. Razão pela qual a ‘pedra da estação’ de todo o interior(assim como a de Aurora) passou a ser o local mais frequentando pela sociedade da época.
Sem distinção de cor ou posição social. Um teste de democracia de modo antecipado e que ninguém parecia não se dá conta. A multidão se acotovelava literalmente em toda a extensão da plataforma da estação de Aurora. Curiosos, viajantes, chapeados, crianças e vendedores ambulantes, todos se misturavam numa massa compacto e quase uniforme de gente na eufórica expectativa da passagem do trem. A pedra da estação estava lotada de aurorenses da sede e dos sítios adjacentes. E até mesmo de cidades circunvizinhas. Era uma tarde calorenta e diferente das demais. Quase uma feira-livre. Uma babel de interesses e fantasias... Aquela espera para todos, era uma eternidade.
Contudo, em meio aos que esperavam aquele trem da RVC, alguns estavam ali com outros propósitos. Muito além dos interesses comuns que animavam a maioria cotidianamente durante as idas e vindas do velho transporte ferroviário. Quem sabe, um acerto de contas. Um negócio em nome do mercantilismo? O que a história, como testemunha ocular do tempo em alguns instantes não demoraria a registrar para à posteridade as verdades insofismáveis daqueles fatos.
E a cronologia do momento seguinte, provaria depois para todos que era um crime. Um atentado violento à ordem e a vida em nome da vingança e da intolerância. Uma intriga passada à limpo, expressa na força da violência e da ignorância em detrimento da razão e da justiça.
Sinais de uma época densamente marcada pelo poder de fogo do coronelismo oligárquico, engendrado pelos mais temíveis e truculentos líderes políticos que o Cariri cearense já experimentou. Um período onde a lei no mais das vezes era a do mais forte e a justiça quase sempre era feita pelas próprias mãos, em geral, dos poderosos. Naquele sábado, de tarde escura de agosto, a estação de Aurora não tardaria a ser palco de um episódio que marcaria à história do Cariri e do Ceará para sempre, vez que envolveria, aquele que foi certamente o mais famoso e temível chefe político da região: o coronel Isaias Arruda. Filho do lugar, ex-delegado, agora prefeito pela força da vizinha Missão Velha. De quebra, o maior dos coiteiros de Lampião no interior cearense. Um autêntico mantenedor de jagunços e hábil negociador político junto aos grandes da capital.
A tarde caia lentamente... O povaréu já parecia se cansar pela lentidão da espera que se prolongava mais que nos dias normais. O guarda-chave gritara aos presentes em nome do agente Viana de que o trem daquele sábado se atrasaria devido a parada que fez para reparos e reposição nas estações de Iguatu e Cedro. No entanto já deveria está nas proximidades de Arrojado, Lavras ou Iborepi. Ingazeiras e Missão Velha também solicitaram informações pelo telégrafo por conta do atraso da locomotiva, disse o Viana com os olhos voltados para a curva da linha de ferro ao Norte onde o trem da feira deveria a qualquer momento apontar seu bico.
O relógio do prédio apontava 14h25min quando, finalmente, todos puderam escutar o apito estridente da máquina a ecoar no horizonte. Apenas Sabina entretida demais com o seu café não se deu conta do acontecido. Todos, de repente voltaram suas atenções na direção do corte-grande lá para as bandas do alto da cruz, do sitio Frade. O trem da Fortaleza vinha ligeiro beirando o rio Salgado.
Ao longe foi possível ouvi mais um apito e o barulho forte da locomotiva esbaforida pela temperatura como um gigante estremecendo o solo aurorense. Em seguida, um torvelinho enorme de fumaça coloriu o céu da Aurora de um escuro forte e bizarro nuca dantes visto pelas pobres alma. Cheiro de brasa, madeira queimada pelo ar. Como se a caldeira e fornalha da Maria-fumaça só quisessem queimar um estoque infindável de jurema braba.
A meninada num frenesi gritava de cima do morro para os demais: lá vem, lá vem o trem, tirem o cachorro do meio que o bicho não enxerga ninguém...
Quando enfim, o trem apontou sua cara na curva da linha. Foi um alvoroço deveras interminável. Um Deus nos acuda. A multidão acorreu para a pedra. E o comboio começou a ficar cercado de gente por todos os lados. Era como se toda a cidade estivesse ali, naquele instante, dando vivas ao trem com seus passageiros caririenses.
Nesse ínterim: Um bêbado no meio do povo, do alto do seu entusiasmo etílico até exclamou exaltado:
-Vixe Maria! Deus me ajude... Um dia ainda me caso com esse trem danado...
Agora o relógio da estação cravava exatos 14h30min. As rodas da máquina de ferro começavam a riscar os trilhos daquela estação. Uma sensação estranha, uma ilusão de óptica... Como se o prédio e as pessoas estivessem passando e o trem permanecesse petrificado em seu estado inercial. Os primeiros vagões da primeira classe já beiravam a plataforma. Todas as atenções agora estavam voltadas para as janelas e portas do trem "intupetado" de viajantes e, que já parara completamente. Os vendedores se agitavam oferecendo os seus produtos alimentícios: água fresca nos potes e nas quartinhas de barro. Frutas, comidas, bolos, salgados e outras guloseimas...
Toda a gastronomia tradicional da Aurora parecia está ali desfilando seus dotes na estação do trem para a freguesia. Um incentivo direto ao pecado da gula dos passageiros e transeuntes. Exímios chapeados transportavam com pressa e celeridade grandes caixotes, pacotes e outros fardos de mercadorias. Uns desciam para o armazém da RVC outros subiam para os vagões do trem com destino ao Crato. Animais, peças de madeira, artesanato, aguardente, rapadura, oiticica, panelas de barro. O trem acelerava a curiosidade, tanto quanto a economia daquela terra.
Mas de repente o som de um tiro seco ribombeou no ar. Quebrando a normalidade natural daquele acontecimento diário. Em seguida vários outros disparos puderam ser ouvidos no interior do segundo vagão da primeira classe. Talvez sete ou oito no total... Até hoje ninguém sabe ao certo. Um silêncio quase sepulcral se abateu na plataforma por alguns instantes que pareceram eternos. Somente o ronco da locomotiva estacionada defronte a caixa d’água. Em seguida uma correria...
Vozes diziam tratar-se de uma discussão. Três homens saíram atracados e em seguida correram no sentido contrário do vagão. Uma disparada em direção do armazém e depois para o beco da antiga rua que dava para o cemitério. Um quarto homem um tanto elegante, bem tratado, gestos aparentemente finos surgiu do segundo vagão da primeira classe. Vestindo impecavelmente um linho branco, ele pisou de modo esquisito e desaprumado o piso, a pedra da estação. Alguns passos apenas e cambaleando fitou a multidão como quem quisesse dizer algo. Não foi possível.
Sangrando e com a mão direita colada ao peito chamava baixinho pelo primo. O linho branco do seu terno agora começava a se tingir de vermelho. Seus sapatos de cor marrom e bem polidos contrastavam com o vermelho escuro do seu próprio sangue formando porças na plataforma. Era o coronel Isaias Arruda, chefe político, prefeito da Missão Velha. Homem afamado em toda região e na capital do estado. Devagar caiu ao chão da plataforma ainda com arma junta ao cinto da calça. Não teve tempo de usá-la.
Alguém saindo de dentro do vagão posterior se aproxima dele e forra o chão da pedra com um jornal que lia; edição do dia 3. Seu braço esquerdo e parte superior do tórax estavam em frangalhos. Ferimentos gravíssimos provocados pelos sete balanços com que fora atingido.
O coronel ferido seriamente pronunciava baixinho como que cansado:
- Os irmãos paulinos me acertaram! Mas como é que nem o Viana nem ninguém me avisou que meus inimigos estavam aqui?! Bando de covardes...
E de chofre emendou:
- Alguém me chame o farmacêutico! Foram os Paulinos, eles me acertaram... Bando de covardes!
A multidão agora abria caminho para o pessoal da RVC. Muitos correram na direção da rua, se afastando da cena do crime, talvez com medo de um novo tiroteio. As janelas dos vagões agora estavam cheias de curiosos passageiros, ainda que perplexos. Outros mais ousados e corajosos aos poucos foram se aproximando da vítima que gemia deitada ao solo da pedra sobre as folhas do jornal ‘O Ceará’. Enquanto isso, um pouco afastado da estação José Furtado (Nequinho de Milica) primo da vítima saíra em perseguição (ou fugindo) dos irmãos Paulinos: Antonio e Francisco, responsáveis pelo atentado.
A tarde estava cinzenta naquela Aurora pacata e provinciana de 1928. Uma enorme sensação de tranquilidade cobria os semblantes dos viajantes, assim como o coração e o pensamento da multidão que se aglomerava na pedra da estação. Uma cena comum a todas as cidades interioranas atendidas pelo velho trem da Rede Ferroviária Cearense(RVC). Nuvens cor de chumbo em formação pareciam prenunciar no céu daquela Aurora antiga e calma, algo diferente prestes a ocorrer: uma tragédia. Aurora – apenas uma cidadezinha dos anos vinte como tantas outras quase esquecidas nos grotões nordestinos.
Um povoado monótono e aprazível, esmaecido na preguiça de um tempo lento em que a existência do trem, assim como a construção da sua estação ferroviária eram por assim dizer, o maior de todos os sonhos até então realizados nas paragens do Cariri. A mais inacreditável das invenções humanas direcionadas ao progresso dos sertões, até então abandonados no oco do mundo pelos homens da política do litoral. O trem, portanto era um acontecimento social. Uma festa quase utópica e operística.
Uma criação tão fantástica ao ponto de ninguém querer desejar mais nada das hostes do poder. Em última análise, o trem era a glória das glórias... E Aurora de alguma maneira vivia isso em todas as suas plenitudes e consequências. O progresso e a modernidade, diziam as elites paroquiais, começavam a dá o ar da sua graça...
Naquela tardinha quase insossa de sábado, dia 4 de agosto de 1928 quando muitos já se esqueciam dos episódios um ano antes relacionado à presença do rei do cangaço na terrinha; o velho aparelho do telégrafo da RVC de novo estava prestes a receber no código morse um telegrama diferente. Um comunicado estranho; digamos que chave, para todos os desdobramentos do acontecimento dramático que se seguira ao fato: “Antonio, algodão hoje sobe!”. Uma missiva quase enigmática considerando que o algodão – o ouro branco d’Aurora faria sempre o sentido contrário, ou seja, descia. E o seu preço no mercado há muito era de todos conhecido.
Porém, aquela mensagem codificada não seria de todos estranha. Havia um destino e um desiderato certo: surpreender o coronel. Dizia muito mais do que ali estava escrito de modo lacônico... A estação de Aurora estava repleta de gente. Um acontecimento que se tornara comum deste a sua inauguração oito anos antes em 7 de setembro de 1920.
Um povoado monótono e aprazível, esmaecido na preguiça de um tempo lento em que a existência do trem, assim como a construção da sua estação ferroviária eram por assim dizer, o maior de todos os sonhos até então realizados nas paragens do Cariri. A mais inacreditável das invenções humanas direcionadas ao progresso dos sertões, até então abandonados no oco do mundo pelos homens da política do litoral. O trem, portanto era um acontecimento social. Uma festa quase utópica e operística.
Uma criação tão fantástica ao ponto de ninguém querer desejar mais nada das hostes do poder. Em última análise, o trem era a glória das glórias... E Aurora de alguma maneira vivia isso em todas as suas plenitudes e consequências. O progresso e a modernidade, diziam as elites paroquiais, começavam a dá o ar da sua graça...
Naquela tardinha quase insossa de sábado, dia 4 de agosto de 1928 quando muitos já se esqueciam dos episódios um ano antes relacionado à presença do rei do cangaço na terrinha; o velho aparelho do telégrafo da RVC de novo estava prestes a receber no código morse um telegrama diferente. Um comunicado estranho; digamos que chave, para todos os desdobramentos do acontecimento dramático que se seguira ao fato: “Antonio, algodão hoje sobe!”. Uma missiva quase enigmática considerando que o algodão – o ouro branco d’Aurora faria sempre o sentido contrário, ou seja, descia. E o seu preço no mercado há muito era de todos conhecido.
Porém, aquela mensagem codificada não seria de todos estranha. Havia um destino e um desiderato certo: surpreender o coronel. Dizia muito mais do que ali estava escrito de modo lacônico... A estação de Aurora estava repleta de gente. Um acontecimento que se tornara comum deste a sua inauguração oito anos antes em 7 de setembro de 1920.
Jagunços do Coronel Arruda |
Sem distinção de cor ou posição social. Um teste de democracia de modo antecipado e que ninguém parecia não se dá conta. A multidão se acotovelava literalmente em toda a extensão da plataforma da estação de Aurora. Curiosos, viajantes, chapeados, crianças e vendedores ambulantes, todos se misturavam numa massa compacto e quase uniforme de gente na eufórica expectativa da passagem do trem. A pedra da estação estava lotada de aurorenses da sede e dos sítios adjacentes. E até mesmo de cidades circunvizinhas. Era uma tarde calorenta e diferente das demais. Quase uma feira-livre. Uma babel de interesses e fantasias... Aquela espera para todos, era uma eternidade.
Contudo, em meio aos que esperavam aquele trem da RVC, alguns estavam ali com outros propósitos. Muito além dos interesses comuns que animavam a maioria cotidianamente durante as idas e vindas do velho transporte ferroviário. Quem sabe, um acerto de contas. Um negócio em nome do mercantilismo? O que a história, como testemunha ocular do tempo em alguns instantes não demoraria a registrar para à posteridade as verdades insofismáveis daqueles fatos.
E a cronologia do momento seguinte, provaria depois para todos que era um crime. Um atentado violento à ordem e a vida em nome da vingança e da intolerância. Uma intriga passada à limpo, expressa na força da violência e da ignorância em detrimento da razão e da justiça.
Sinais de uma época densamente marcada pelo poder de fogo do coronelismo oligárquico, engendrado pelos mais temíveis e truculentos líderes políticos que o Cariri cearense já experimentou. Um período onde a lei no mais das vezes era a do mais forte e a justiça quase sempre era feita pelas próprias mãos, em geral, dos poderosos. Naquele sábado, de tarde escura de agosto, a estação de Aurora não tardaria a ser palco de um episódio que marcaria à história do Cariri e do Ceará para sempre, vez que envolveria, aquele que foi certamente o mais famoso e temível chefe político da região: o coronel Isaias Arruda. Filho do lugar, ex-delegado, agora prefeito pela força da vizinha Missão Velha. De quebra, o maior dos coiteiros de Lampião no interior cearense. Um autêntico mantenedor de jagunços e hábil negociador político junto aos grandes da capital.
A tarde caia lentamente... O povaréu já parecia se cansar pela lentidão da espera que se prolongava mais que nos dias normais. O guarda-chave gritara aos presentes em nome do agente Viana de que o trem daquele sábado se atrasaria devido a parada que fez para reparos e reposição nas estações de Iguatu e Cedro. No entanto já deveria está nas proximidades de Arrojado, Lavras ou Iborepi. Ingazeiras e Missão Velha também solicitaram informações pelo telégrafo por conta do atraso da locomotiva, disse o Viana com os olhos voltados para a curva da linha de ferro ao Norte onde o trem da feira deveria a qualquer momento apontar seu bico.
O relógio do prédio apontava 14h25min quando, finalmente, todos puderam escutar o apito estridente da máquina a ecoar no horizonte. Apenas Sabina entretida demais com o seu café não se deu conta do acontecido. Todos, de repente voltaram suas atenções na direção do corte-grande lá para as bandas do alto da cruz, do sitio Frade. O trem da Fortaleza vinha ligeiro beirando o rio Salgado.
Ao longe foi possível ouvi mais um apito e o barulho forte da locomotiva esbaforida pela temperatura como um gigante estremecendo o solo aurorense. Em seguida, um torvelinho enorme de fumaça coloriu o céu da Aurora de um escuro forte e bizarro nuca dantes visto pelas pobres alma. Cheiro de brasa, madeira queimada pelo ar. Como se a caldeira e fornalha da Maria-fumaça só quisessem queimar um estoque infindável de jurema braba.
A meninada num frenesi gritava de cima do morro para os demais: lá vem, lá vem o trem, tirem o cachorro do meio que o bicho não enxerga ninguém...
Quando enfim, o trem apontou sua cara na curva da linha. Foi um alvoroço deveras interminável. Um Deus nos acuda. A multidão acorreu para a pedra. E o comboio começou a ficar cercado de gente por todos os lados. Era como se toda a cidade estivesse ali, naquele instante, dando vivas ao trem com seus passageiros caririenses.
Nesse ínterim: Um bêbado no meio do povo, do alto do seu entusiasmo etílico até exclamou exaltado:
-Vixe Maria! Deus me ajude... Um dia ainda me caso com esse trem danado...
Agora o relógio da estação cravava exatos 14h30min. As rodas da máquina de ferro começavam a riscar os trilhos daquela estação. Uma sensação estranha, uma ilusão de óptica... Como se o prédio e as pessoas estivessem passando e o trem permanecesse petrificado em seu estado inercial. Os primeiros vagões da primeira classe já beiravam a plataforma. Todas as atenções agora estavam voltadas para as janelas e portas do trem "intupetado" de viajantes e, que já parara completamente. Os vendedores se agitavam oferecendo os seus produtos alimentícios: água fresca nos potes e nas quartinhas de barro. Frutas, comidas, bolos, salgados e outras guloseimas...
Toda a gastronomia tradicional da Aurora parecia está ali desfilando seus dotes na estação do trem para a freguesia. Um incentivo direto ao pecado da gula dos passageiros e transeuntes. Exímios chapeados transportavam com pressa e celeridade grandes caixotes, pacotes e outros fardos de mercadorias. Uns desciam para o armazém da RVC outros subiam para os vagões do trem com destino ao Crato. Animais, peças de madeira, artesanato, aguardente, rapadura, oiticica, panelas de barro. O trem acelerava a curiosidade, tanto quanto a economia daquela terra.
Mas de repente o som de um tiro seco ribombeou no ar. Quebrando a normalidade natural daquele acontecimento diário. Em seguida vários outros disparos puderam ser ouvidos no interior do segundo vagão da primeira classe. Talvez sete ou oito no total... Até hoje ninguém sabe ao certo. Um silêncio quase sepulcral se abateu na plataforma por alguns instantes que pareceram eternos. Somente o ronco da locomotiva estacionada defronte a caixa d’água. Em seguida uma correria...
Vozes diziam tratar-se de uma discussão. Três homens saíram atracados e em seguida correram no sentido contrário do vagão. Uma disparada em direção do armazém e depois para o beco da antiga rua que dava para o cemitério. Um quarto homem um tanto elegante, bem tratado, gestos aparentemente finos surgiu do segundo vagão da primeira classe. Vestindo impecavelmente um linho branco, ele pisou de modo esquisito e desaprumado o piso, a pedra da estação. Alguns passos apenas e cambaleando fitou a multidão como quem quisesse dizer algo. Não foi possível.
Sangrando e com a mão direita colada ao peito chamava baixinho pelo primo. O linho branco do seu terno agora começava a se tingir de vermelho. Seus sapatos de cor marrom e bem polidos contrastavam com o vermelho escuro do seu próprio sangue formando porças na plataforma. Era o coronel Isaias Arruda, chefe político, prefeito da Missão Velha. Homem afamado em toda região e na capital do estado. Devagar caiu ao chão da plataforma ainda com arma junta ao cinto da calça. Não teve tempo de usá-la.
Alguém saindo de dentro do vagão posterior se aproxima dele e forra o chão da pedra com um jornal que lia; edição do dia 3. Seu braço esquerdo e parte superior do tórax estavam em frangalhos. Ferimentos gravíssimos provocados pelos sete balanços com que fora atingido.
O coronel ferido seriamente pronunciava baixinho como que cansado:
- Os irmãos paulinos me acertaram! Mas como é que nem o Viana nem ninguém me avisou que meus inimigos estavam aqui?! Bando de covardes...
E de chofre emendou:
- Alguém me chame o farmacêutico! Foram os Paulinos, eles me acertaram... Bando de covardes!
A multidão agora abria caminho para o pessoal da RVC. Muitos correram na direção da rua, se afastando da cena do crime, talvez com medo de um novo tiroteio. As janelas dos vagões agora estavam cheias de curiosos passageiros, ainda que perplexos. Outros mais ousados e corajosos aos poucos foram se aproximando da vítima que gemia deitada ao solo da pedra sobre as folhas do jornal ‘O Ceará’. Enquanto isso, um pouco afastado da estação José Furtado (Nequinho de Milica) primo da vítima saíra em perseguição (ou fugindo) dos irmãos Paulinos: Antonio e Francisco, responsáveis pelo atentado.
Estação da RVC, ali foi alvejado Isaias Arruda |
Levado para a residência de Augusto Jucá um antigo amigo na rua grande, Isaias foi socorrido, inicialmente por um farmacêutico - o único que existia na cidade. No dia seguinte dois médicos vindo de trole pela linha da RVC: Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos atenderam o coronel. Porém, diante das gravidades dos ferimentos não tiveram como salvá-lo. Sendo que no dia 8 de Abril uma quarta-feira às 6h da manhã, quatro dias após ser alvejado, Isaías Arruda faleceu como que por capricho do destino na terra em que nascera. Rumores apontaram ter sido o assassinato uma vingança de Lampião pela traição do coronel um ano antes, durante a célebre tentativa de envenenamento do bando lampiônico e o histórico cerco de fogo do sítio Ipueiras, propriedade de Arruda em Aurora em cujo local Virgulino se arranchara por diversas vezes.
Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes após o fracasso da invasão de Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio Isaías. Mas o certo, segundo se provaria depois foi que os Paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior. Terminava ali de modo trágico, na estação ferroviária de Aurora a verdadeira saga de um dos mais temíveis e respeitados coronéis do Cariri - Isaias Arruda. Assim como sua rixa ferrenha contra os irmãos Paulinos da Aurora.
(*) Prof. José Cícero é pesquisador, escritor,poeta e atual secretário de Cultura de Aurora.
Ocasião em que o rei do cangaço fugia das volantes após o fracasso da invasão de Mossoró, arquitetada sob as estratégias de Massilon Leite e financiada pelo próprio Isaías. Mas o certo, segundo se provaria depois foi que os Paulinos vingaram o assassinato do irmão mais velho João, morto numa emboscada no serrote d’Aurora pelos jagunços de Arruda no ano anterior. Terminava ali de modo trágico, na estação ferroviária de Aurora a verdadeira saga de um dos mais temíveis e respeitados coronéis do Cariri - Isaias Arruda. Assim como sua rixa ferrenha contra os irmãos Paulinos da Aurora.
(*) Prof. José Cícero é pesquisador, escritor,poeta e atual secretário de Cultura de Aurora.
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História e fatos do Nordeste
A BATALHA DE MARANDUBA-SE
Em princípios de janeiro de 1932, na fazenda Maranduba, no sertão do Sergipe,Lampião repetiu o fato militar da Serra Grande, em 1926, ao derrotar umanumerosa força militar, integrada por famosos combatentes contra o cangaço.
Na opinião de um desses destacados militares, o Tenente Manoel Neto, da força pernambucana, em Maranduba “ele nunca tinha visto tanta bala como viu ali”. A intensidade do tiroteio travado entre Lampião e o seu bando e as forças militares foide tal intensidade que um contemporâneo dos acontecimentos registrou o fato deque “uma coisa que foi muito comentada e com curiosidade, foi que no local em queaconteceu o fogo de Maranduba, durante vários anos, das árvores e dos matos rasteiros não ficaram folhas. Tudo era preto, como se tivesse passado um grande fogo. As árvores ficaram completamente descascadas de cima abaixo, de balas”.
Tal como ocorrido em Serra Grande, Lampião preparou uma emboscada com o objetivo de liquidar, de uma só vez, todo o efetivo militar. Mais uma vez, os chefes da força policial subestimaram a competência de Lampião e acreditaram que a superioridade que detinham em homens e armas seria um fator de desequilíbrio na batalha.
Alguns historiadores tentam "minimizar" a vitória obtida por Lampião depois de uma feroz batalha, admitindo, apenas, de que, no final das contas, houve “perdas humanas tanto entre os cangaceiros como entre as forças volantes, porém com maior prejuízo para estas ...”
Para que se tenha uma idéia do que representou esta batalha para ambos os lados e para a história das lutas sociais do Nordeste, dois pontos devem ser ressaltados:
O primeiro ponto importante refere-se à participação, nesta batalha, dos aguerridos e temíveis Nazarenos. Os nazarenos, uma forçapolicial dedicada em tempo integral na busca e, se possível, destruição de Lampião eseu bando, já eram lendários nos sertões nordestinos, por suas ações militares. Nestabatalha participaram sob o comando do Tenente Manoel Neto.
O segundo ponto a ser destacado é que, apesar da longa, dolorosa e sangrenta campanha contra Lampião e da experiência militar adquirida, mais uma vez os chefes militares deram provas de que sua inteligência sempre ficou abaixo dos arroubos da valentia. A raiva, a fúria e a arrogância foram confrontadas com o sangue-frio, a paciência e a inteligência de Lampião. Rodrigues de Carvalho chegou a afirmar, analisando estas e outras batalhas que Lampião tinha praticado “façanhas de deixar muito curso do Estado Maior com água na boca”
No caso específico de Maranduba, o historiador Rodrigues de Carvalho não hesita em afirmar que, apesar da superioridade em homens e armas, por parte das forças militares, Lampião demonstrou uma superioridade tática sobre seus adversários. Escreve ele: “E a verdade deve ser dita: quem primeiro abandonou ocampo de luta foi a força”. E, mais adiante: “O fato é que durante a extensão da tremenda refrega, que foi por toda a tarde, pode dizer-se sem medo de cometer injustiça, o domínio da situação pertenceu ao ardiloso facínora. Estava todo otempo, como se diz vulgarmente, serrando de cima”
O cangaceiro Angelo Roque (Labareda) que participou nesta batalha, em depoimento prestado a Estácio Lima e publicado no livro O Mundo Estranho dos Cangaceiros, descreve o que aconteceu, neste dia, no seu linguajar típico:
“... Nóis cheguêmo na caatinga de MARANDUBA, pru vorta di maio dia, i tratemo di discansá i fazê fogo prôs dicumê, i nóis armoçá. Mas a gente num si descôidava um tico, i nóis sabia qui as volante andava pirigosa. Inquanto nóis discansava, botemo imboscada forte, di déiz cabra pra atacá us macaco qui si proximasse. Nóis cunhicia us terreno daqueles mundão, parmo a parmo. Us macaco num sabia tanto cuma nóis. Todos buraco, pedreguio, levação, pé di pau, pru perto, nóis sabia di ôio-fechado, i pudia tirá di pontaria sem sê vistado. Nisso, vem cheganou’a das maió macacada qui tivemos di infrentá. I us cumandante todo di dispusiçãoprá daná: MANUÉ NETO, qui us cangacêro tamém chamava MANÉ FUMAÇA, ODILON, EUCRIDE, ARCONSO I AFONSO FRÔ. Tamém um NOGUÊRA. Nesse bucadão di macaco tava u Capitão ou Tenente LIBERATO, du izérto. Dizia us povo qui ele era duro di ruê. I era mesmo. Brigava cuma gente grande, i marvado cumo minino. Mas porém, valente cumo u capêta. Di nada sirvia a gente gostá i tratá com côidado um mano qui êle tinha na Serra Nêga. Essa FORÇA toda dus macaco si pegô mais nóis na MARANDUBA. Nóis era trinta e dois cabra bom. U CapitãoVirgulino tinha di junto, nessa brigada, us principá cangacêro: VIRGINO, IZEQUIÉ, ZÉ BAIANO, LUIZ PÊDO i seu criado LABAREDA. Dus maiorá só fartava mesmo CURISCO sempre gostô di trabaiá sozinho, num grupo isculido dicangacêro, mais DADÁ. Briguemo na MARANDUBA a tarde toda i nóis cum as vantage cumpreta das pusição, apôis us macaco num pudia vê nóis. A volante di NAZARÉ deve tê murrido quaji toda. Caiu, tamém, matado di ua vêis, um dus FRÔ, qui si bem mi alembro, foi u AFONSO. Cumpade Lampião chegô pra di junto do finado i abriu di faca a capanga dêle, i achô um papé qui tinha iscrito um decreto dizeno qu ele já tinha dado vintei quatro combate cum u cumpade Lampião. Veio morrê nu vinte i cinco. A valia qui tivemo nessa brigada foi us iscundirijo. Morrero, aí, trêiz cangacêro i trêiz ficô baliado. Us istrago qui fizemo nessa brigada foi danado ! Matemo macaco di horrô !”
Do depoimento de Labareda e de outros testemunhos da batalha de Maranduba,alguns pontos devem ser destacados:
1. O completo conhecimento que Lampião e os cangaceiros tinham do terreno onde foi travado o combate.
2. A competência tática de Lampião em contraposição à incompetência dos chefes militares.
3. A participação dos nazarenos, comandados pelo Tenente Manoel Neto, um veterano nas lutas contra Lampião e o cangaço.
4. As baixas entre nazarenos: seis mortos e oito feridos.
5. As baixas entre os cangaceiros: três mortos e quatro feridos.
6. Um detalhe importante: as tropas militares eram superiores em número, na proporção de três para um.
Enfim, a batalha de Maranduba constituiu-se num acontecimento invulgar na história recente do Nordeste. Na opinião de Rodrigues de Carvalho, este combate pode ser considerado como sendo o mais “renhido e porfiado de todos os cheques armados desta controvertida campanha contra o banditismo no eixo Sergipe-Bahia. Foi uma chacina horrível pelas deploráveis conseqüências que tivera para as forças legais empenhadas no combate. O número de baixas fatais foi muito grande, exagerado mesmo, em relação ao número de combatentes empenhados na refrega”
Diante da tragédia que significou esta derrota das forças militares diante deLampião e seu grupo, a historiografia oficial tenta minimizar o fato. O Capitão JoãoBezerra, personagem central do nebuloso episódio de Angicos, no seu livro de memórias, ao referir-se ao episódio de Maranduba, afirma apenas que neste local foi travado um “encarniçado combate com grandes perdas de parte a parte entre mortos e feridos”. Quase a seguir, duas páginas adiante, ele retifica a sua informação, dizendo que Lampião tinha sido “destroçado em Maranduba”.
Fonte: http://lampiaoaceso.blogspot.com/search/label/Batalhas
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História e fatos do Nordeste
O combate da Fazenda Ipueiras / Serrita - PE
Por Ivanildo Silveira
No dia 3 de Fevereiro de 1927, na fazenda Ipueiras, naquela época município de Leopoldina, (hoje Parnamirim) hoje é território município de Serrita/PE, no alto sertão, ocorreu uma grande batalha. De um lado a família do Cel. Pedro Xavier e do outro Lampião com seus meninos.
Ipueiras, de certo modo, possuía uma situação privilegiada, de solo fértil, água; lá se produzia cana-de-açúcar, para fazer moagens, arroz, batata e demais produtos da terra destinados á alimentação da população, a pescaria nos açudes e a atividade agropecuária. O excedente era comercializado na feira semanal localizada na Vila de Ipueiras, encravada na Fazenda de mesmo nome.
O Coronel, homem flexível, hospitaleiro e generoso, exerceu também o cargo de juiz interino de direito na vacância do titular da comarca de Leopoldina. Morava no casarão da Fazenda Ipueiras e teve numerosa prole. Os descendentes, os familiares dos Xavier, uns moravam na Fazenda e outros na Vila de Ipueiras – uma incipiente urbanização com um pequeno mercado semanal, uma escola, uma agência de correio, farmácia, mercearia, padaria, loja, que na sua maioria, pertenciam aos próprios membros da família, uma espécie de feudo.
Cel Pedro Xavier |
Na década de vinte, do século passado, eram comuns as andanças de bandos de cangaceiros, por todo o nordeste. Lampião perambulava pelas caatingas, assaltando, matando, extorquindo, pequenos, médios e grandes proprietários de terra.
De início, Lampião e o seu bando passaram em “paz” pela Ipueiras, em 26 de maio de 1925, quando o Cel. Pedro Xavier não fugindo da costumeira hospitalidade mandou fornecer-lhe comida, roupas e lenços tirados da loja de um de seus filhos Gumercindo.
Naquela oportunidade, as filhas e as noras do Cel. Pedro Xavier foram proibidas de se apresentarem para conhecer Lampião e seu bando, para evitar que os cabras cometessem algum atrevimento.
O Cel. Pedro Xavier, um tanto constrangido de ter dado guarida a Lampião, pois soube de algumas bobagens que seu bando andou fazendo com outras pessoas dali, firmou o propósito diante da família, de que, na próxima vez que ele passasse, o "receberia na bala". Para isso, mandou um recado para Lampião:
“Não volte mais à Ipueiras, do contrário, será recebido à bala”.
Ao tomar conhecimento do fato, Lampião mandou a seguinte resposta:
“ Quando passei por Ipueiras, respeitei você e sua gente, agora com seu recado atrevido a coisa vai mudar, prepare-se que vai haver choro “.
O momento fatídico estava para acontecer a qualquer instante. Até que no dia 03 de Fevereiro de 1927, alguns membros da família do Coronel Pedro Xavier estavam reunidos na casa da fazenda para almoçar, esperando os demais que se encontravam na Vila de Ipueiras. Encontravam-se na casa sede da fazenda apenas: a matriarca Josefa Xavier (esposa do coronel); José Saraiva Xavier (Dezinho), um dos baluartes do combate; Aparício Xavier que na época era seminarista em Petrolina-PE, e estava de férias na Fazenda; Mário Saraiva Xavier, o mais novo dos filhos e ainda menino; Francisca Xavier (nora do Coronel); Pedro; e amigos da família como Napoleão Pereira e Naninha (esposa); e Tosinha ( de Jardim-Ce); Manoel Preto (afilhado de d. Josefa) e Pedro Dama, este, por sinal, cego de um olho, homens de confiança da família.
Estavam na Vila (povoado de Ipueiras) na hora do cerco e foram subindo para a casa da fazenda, atirando: o Coronel Pedro Xavier, o patriarca da família, Gumercindo, Antonio, Aristides e Amélia (filhos do coronel), João Sampaio Xavier (genro e sobrinho), Luiz Teixeira (genro), Pedro Saraiva (genro). Dos filhos só faltou Francisco Xavier Sobrinho, filho mais velho do coronel Xavier, que estava em um fazenda distante, e não chegou a tempo.
De início, Lampião e o seu bando passaram em “paz” pela Ipueiras, em 26 de maio de 1925, quando o Cel. Pedro Xavier não fugindo da costumeira hospitalidade mandou fornecer-lhe comida, roupas e lenços tirados da loja de um de seus filhos Gumercindo.
Naquela oportunidade, as filhas e as noras do Cel. Pedro Xavier foram proibidas de se apresentarem para conhecer Lampião e seu bando, para evitar que os cabras cometessem algum atrevimento.
O Cel. Pedro Xavier, um tanto constrangido de ter dado guarida a Lampião, pois soube de algumas bobagens que seu bando andou fazendo com outras pessoas dali, firmou o propósito diante da família, de que, na próxima vez que ele passasse, o "receberia na bala". Para isso, mandou um recado para Lampião:
“Não volte mais à Ipueiras, do contrário, será recebido à bala”.
Ao tomar conhecimento do fato, Lampião mandou a seguinte resposta:
“ Quando passei por Ipueiras, respeitei você e sua gente, agora com seu recado atrevido a coisa vai mudar, prepare-se que vai haver choro “.
O momento fatídico estava para acontecer a qualquer instante. Até que no dia 03 de Fevereiro de 1927, alguns membros da família do Coronel Pedro Xavier estavam reunidos na casa da fazenda para almoçar, esperando os demais que se encontravam na Vila de Ipueiras. Encontravam-se na casa sede da fazenda apenas: a matriarca Josefa Xavier (esposa do coronel); José Saraiva Xavier (Dezinho), um dos baluartes do combate; Aparício Xavier que na época era seminarista em Petrolina-PE, e estava de férias na Fazenda; Mário Saraiva Xavier, o mais novo dos filhos e ainda menino; Francisca Xavier (nora do Coronel); Pedro; e amigos da família como Napoleão Pereira e Naninha (esposa); e Tosinha ( de Jardim-Ce); Manoel Preto (afilhado de d. Josefa) e Pedro Dama, este, por sinal, cego de um olho, homens de confiança da família.
Estavam na Vila (povoado de Ipueiras) na hora do cerco e foram subindo para a casa da fazenda, atirando: o Coronel Pedro Xavier, o patriarca da família, Gumercindo, Antonio, Aristides e Amélia (filhos do coronel), João Sampaio Xavier (genro e sobrinho), Luiz Teixeira (genro), Pedro Saraiva (genro). Dos filhos só faltou Francisco Xavier Sobrinho, filho mais velho do coronel Xavier, que estava em um fazenda distante, e não chegou a tempo.
Dezinho Xavier "herói do combate de Ipueiras". |
De repente, se ouviu um tiro. Dezinho Xavier teve a impressão de ser tropa do governo, e indagou: " Quem Vem ai, é da polícia?" . A resposta foi um tiro disparado pelo cangaceiro ‘Tempero” que vinha á frente do grupo. Por um triz não alvejou Dezinho, que, sem perda de tempo, respondeu ao tiro, atingindo o aludido bandoleiro á altura de uma das orelhas, que caiu ali, sem vida.
Lampião e seus cabras iniciaram o grande tiroteio, com mais rancor, diante da morte de um dos integrantes do grupo. Verdadeira batalha estava sendo travada, entre os Xavier e os Cabras de Lampião, cujos tiros quebraram jarras d´agua, derrubaram paiol e jirau de queijo. Dezinho Xavier, Manoel Reto e Pedro Dama seguraram o fogo de frente evitando que Lampião chegasse ao terreiro da casa, enquanto esperavam pelo pessoal que estava na Vila de Ipueiras, mas que já vinham ás carreiras para sustentar o fogo.
Os heróis filhos do Cel. Pedro Xavier. |
Enquanto o combate prosseguia, com tiros de ambos os lados, as mulheres rezavam e os homens, não tinham tempo nem de urinar. Napoleão Pereira, em alto e bom desafiava Lampião, dizendo: “ Cabra safado, um bandido como tu, eu te dou de peia no umbigo, você está falando com Napoleão Pereira do Jardim do Ceará. No meio da aflição, Manoel Preto acalmava Dona Zefinha;
“ Madrinha Zefinha, enquanto a senhora ver este negro aqui, só tenha medo dos castigos de Deus “.
Lampião trazia como refém, um camponês, amigo dos Xavier, Sr. Vicente Venâncio, além de Pedro Vieira Cavalcante da cidade de Jardim-CE, tendo exigido da família desse último, 5 contos de réis para soltá-lo.
Lampião trazia como refém, um camponês, amigo dos Xavier, Sr. Vicente Venâncio, além de Pedro Vieira Cavalcante da cidade de Jardim-CE, tendo exigido da família desse último, 5 contos de réis para soltá-lo.
Aspecto atual da fazenda: |
Com a chegada, na casa da Fazenda, dos que se encontravam na Vila de Ipueiras, entre eles, destacou-se Gumercindo Xavier, homem de caráter admirável e coragem a toda prova, a reação aumentou.
Outro ângulo da Ipueiras de Hoje. |
Só que os recursos se exauriam, a cada minuto. O Cel. Pedro Xavier temendo a munição se acabar e Lampião ir ganhando terreno em direção á casa da fazenda, e ai seria o fim da epopeia, mandou seus serviçais selar cavalos e avisar aos parentes e amigos, a exemplo do Coronel Chico Romão.
Segundo depoimento de um dos reféns de Lampião, Sr. Vicente Vitorino, no momento do tiroteio, “Havia se quebrado o rosário de Lampião”, e, como os cangaceiros eram por demais supersticiosos, o rei do cangaço manifestou-se receoso com o fato: era mal sinal num combate, quebrar-se um rosário. Por sua vez a bala certeira dos Xavier havia matado o cangaceiro “Tempero”.
Lampião ficou cabreiro com o episódio, e, disse:
“Os homens estão fortes, o rosário quebrou e já perdemos nosso melhor fuzil, referindo-se á perda do cangaceiro “Tempero” ( que era um dos melhores atiradores do grupo), vamos dar o fora “.
A localização da Fazenda Ipueiras, dista cerca de 20 kms da cidade de Serrita/PE.
Naquele dia Lampião estava endiabrado. Como a esposa do refém Pedro Vieira Cavalcante *(de Jardim-CE) não pagou o resgate exigido pelo facínora, ali mesmo, na Faz. Ipueiras, ele foi morto. O tenebroso bandido, também, matou um popular, um rapaz jovem chamado Lino, que ia cavalgando num jumento, nas proximidades.
Na foto, consta na cruz, a data de 02/02/1927, porém a literatura cangaceirista informa que o combate ocorreu no dia 03. (????) |
“ Velho, se você nos desviar de um Piquete dos Xavier, eu lhe solto, se não você morre “.
E, então, o camponês sabiamente, os conduziu por percursos estranho aos percorridos normalmente pelos Xavier, e, lá longe, na Macambira, Lampião soltou o velho que voltou á casa dos Xavier e narrou todo o acontecido.
Logo após o combate, chegaram á Fazenda Ipueiras, o Coronel Chico Romão, de Serrita, com 50 homens, armas e munições, Aparício e Alfredo Romão com 30 homens; Luiz Pereira de Jardim-CE (genro do Cel. Pedro Xavier) com 30 homens. Em face do acontecido, as filhas do coronel Pedro Xavier, a idéia foi de Adalgisa ergueram uma Capela na fazenda, cujo patrono é São José.
Logo após o combate, chegaram á Fazenda Ipueiras, o Coronel Chico Romão, de Serrita, com 50 homens, armas e munições, Aparício e Alfredo Romão com 30 homens; Luiz Pereira de Jardim-CE (genro do Cel. Pedro Xavier) com 30 homens. Em face do acontecido, as filhas do coronel Pedro Xavier, a idéia foi de Adalgisa ergueram uma Capela na fazenda, cujo patrono é São José.
Aspecto (escombros) de uma CAPELA existente, atualmente, na Fazenda. |
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