quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Apollo 14

Insigena


Stuart roosa, Alan Shepard & Edgar Mitchell


Alan Shepard na Lua

Módulo Lunar


A Apollo 14 foi o terceiro pouso de uma nave na Lua e a missão do Projeto Apollo que teve a tarefa de recomeçar as missões para o satélite, após os problemas ocorridos com a Apollo 13. Foi comandada por Alan Shepard, o primeiro norte-americano a ir ao espaço, dez anos depois de sua viagem pioneira do Projeto Mercury e visitou a região de Fra Mauro, um planalto lunar, objetivo da missão anterior abortada.
O pouso em Fra Mauro

O acidente com a Apollo 13 causou um adiamento de apenas quatro meses em relação à data anteriormente prevista para a missão seguinte. A Apollo 14 foi lançada em 31 de janeiro de 1971 e quatro dias depois, o comandante Alan Shepard, veterano dos primórdios da NASA e do Projeto Mercury e participante do primeiro vôo sub-orbital americano, e o piloto do módulo lunar Antares Edgar Mitchell, pousaram na região escolhida de Fra Mauro. alunissagem do módulo Antares não foi das mais tranqüilas, pois a área de Fra Mauro era coalhada de crateras e seu solo era inclinado, em qualquer direção que se olhasse. De qualquer maneira, a perícia de Shepard fez com que a nave pousasse numa cratera quase plana, nos padrões do tamanho do módulo lunar e que estava a apenas 30 metros do alvo exato pré-determinado. O único problema com o ponto em que o Antares pousou, é que nele havia uma inclinação de cerca de 8º o que fez com que, nas 24 horas em que eles permaneceram dentro do módulo, das 33 horas totais em que passaram na Lua, Shepard e Mitchell tiveram que lutar contra um chão inclinado, que ameaçava emborcar um sobre outro. Mais ainda, a inclinação contribuiu para uma noite sem sono entre as duas saídas da tripulação; por outro lado, a posição do ML não teve nenhum efeito na missão. Ninguém ainda havia dado uma boa dormida na Lua e Shepard e Mitchell não foram exceções. Mas eles estavam no chão, virtualmente no alvo, extremamente motivados e em grande forma física e mental.Cerca de três horas após a alunissagem – após reconfigurar o ML para a partida e tirar algum tempo para comer e passar adiante algumas descrições excelentes da vista do lado de fora da janela – os dois tripulantes começaram a vestir suas roupas pressurizadas e mochilas de oxigênio, ficando prontos, como Shepard disse, 'para sair e brincar na neve'. A imagem mental veio facilmente. Do lado de fora da janela, as macias e arredondadas formas das crateras tinham uma aparência de solo coberto de neve, apesar da cor não ser exatamente igual. O negro céu lunar tornava fácil imaginar uma noite de inverno coberta de neve em alguma cidade norte-americana.
Montando o ALSEP

A primeira AEV Atividade Extra-Veicular era, na época da Apollo 14, parte da rotina. Em primeiro lugar, era descer e dar uma olhada em volta; retirar a câmera de TV (agora com um uma tampa protetora de lentes, para evitar o que ocorreu com a tripulação da Apollo 12), depois a antena portátil de alta frequência e a bandeira. Colher umas amostras em volta da nave por garantia e tirar fotografias; retirar o pacote de experimentos do Antares e se dirigir para o local de montagem do ALSEP – conjunto de equipamentos e experimentos científicos trazidos da Terra em cada missão Apollo - a duzentos metros do módulo.Esta missão tinha algumas diferenças em relação a Apollo 12. Uma delas foi uma cesta - chamada no dialeto da NASA de Transportador de Equipamento Modular ou TEM – feita para puxar pelo solo parte do equipamento, facilitando a movimentação durante a caminhada e possível de ser levada neste vôo graças ao adiamento provocado pelo acidente da Apollo 13. O TEM não proporcionava a mobilidade dos jipes planejados para as próximas missões, mas deu aos astronautas a capacidade de carregar muito mais amostras, containers e ferramentas que eles poderiam ter carregado em suas mãos ou nos sacos presos ao equipamento de sobrevivência. E a outra diferença para a Apollo 12 era uma câmera de TV mais robusta. Shepard a apontou em direção da área de montagem do ALSEP antes deles deixarem o módulo lunar, de maneira que todos na Terra podiam observar eles fazendo a caminhada – saindo às vezes de vista, quando cruzavam pontos baixos do terreno. Durante a maioria do tempo da montagem dos experimentos levados à Lua, ambos estiveram na visão total da câmera.A caminhada até o local de montagem foi um pouco mais longa do que o imaginado, em parte porque o terreno ondulado obrigou Mitchell, que estava carregando o pacote ALSEP, a dar umas duas paradas para respirar. Mas, basicamente o terreno não era mais difícil do que o esperado; eles haviam treinado numa superfície plana e a constante ondulação forçou a um período maior de adaptação. Quando eles atingiram a área de montagem, as roupas pressurizadas e duras e as luvas rijas começaram a incomodar como sempre, fazendo Mitchell comentar num momento de suave exasperação, que é preciso dois para fazer o que normalmente metade de um de nós faria. Todavia, à exceção de algumas pequenas cargas sísmicas que não explodiram por completo, os dois astronautas não tiveram problemas em particular. Esta tinha sido a tarefa do primeiro dia.Apesar dos dois astronautas poderem ter dado uma boa dormida antes da caminhada do segundo dia, eles ainda estavam muito excitados para fazem uso de todo o período de repouso determinado. Interessados em ter um segundo dia completo de AEV, eles pediram a Houston para diminuírem o período de descanso em uma hora e, naturalmente, gastaram uma boa parte do tempo descansando sem conseguir dormir. A expectativa era a maior contribuição para a sua falta de sono, mas assim como na Apollo 12, a missão não seria longa o bastante para eles despirem as roupas. Despressurizados, como ficavam dentro do módulo, os macacões eram desconfortáveis e irritantes e entre outras coisas, o aro do pescoço tornava difícil para os astronautas acharem um apoio confortável para suas cabeças. Além disso, assim que eles se esticavam nas redes de dormir, a inclinação da espaçonave parecia maior. Durante o período de descanso, apesar de inconscientemente saberem que estavam seguros, eles acordavam de um meio sono e tinham a impressão que a nave estava tombando. De manhã, a ansiedade em sair novamente fez com que fossem eles a chamar a base em Houston, meia hora antes do tempo combinado para despertar. Os médicos do vôo concluíram que nenhum dos dois havia dormido quase nada e, como a tripulação da Apollo 12, Shepard e Mitchell teriam de puxar pelas suas reservas físicas e mentais para cumprir as tarefas do dia seguinte.
A subida até a Cratera Cone

A missão principal dos tripulantes na região lunar de Fra Mauro – missão herdada da Apollo 13 – era pousar próximo a uma enorme cratera chamada Cone – por ter essa forma em fotos tiradas da órbita lunar por naves não-tripuladas lançadas anteriormente – e fazer uma pesquisa geológica em sua encosta e na sua borda, que parecia aos cientistas da NASA bastante interessante para o estudo dos mistérios da composição lunar e de seu solo. Por terem pousado propositadamente bem afastados do sopé da Cratera Cone, a primeira parte da caminhada foi fácil. O terreno ondulado que circundava o módulo Antares continuava por alguma distância em direção leste. No primeiro trecho da excursão, eles caminharam cerca de 200 metros se afastando do ML e pararam por meia hora para coletar amostras do chão, tirar fotos e fazer uma medição do campo magnético da Lua com um magnetômetro portátil. Após o primeiro ponto de coleta, chamado de Estação A, eles fizeram algumas outras breves paradas e ao final de uma hora, haviam se afastado cerca de 650 metros da espaçonave. A partir daí começaram a notar que estavam subindo e uma de suas tarefas era justamente testar a dificuldade de se subir a pé uma colina na Lua; a pequena colina, no caso, era a encosta lateral da cratera Cone.Para os dois, atingir a borda da cratera ao final da subida era uma questão de honra profissional e uma importante vitória psicológica. Quando eles começaram a subir, estavam a meio caminho da borda e a cerca de 60 m abaixo dela, e também estavam cerca de quinze minutos atrasados na programação, que era feita com o tempo de cada tarefa rigorosamente controlado, por causa do consumo de oxigênio. Tanto eles quanto o comando da missão em Houston esperavam ter uma prorrogação de trinta minutos no tempo disponível, mas isso só lhes daria meia hora para atingir o cimo da borda. Ao nível do solo, eles foram capazes de cobrir os 650 metros em quinze minutos, mas sua habilidade para subir uma encosta era desconhecida. Assim, eles planejaram gastar o máximo de tempo caminhando o que pudessem, fazendo apenas a mais breve das paradas para tirar fotografias e coletar amostras. Quando tudo terminou, eles precisaram de toda aquela meia hora e mais um pouco.Eles fizeram os primeiros estágios da subida num bom tempo. Shepard normalmente na frente puxando a cesta com os equipamentos – muito mais leve do que na Terra graças ao 1/6 da gravidade terrestre na Lua – e Mitchell seguindo atrás tentando identificar marcos com o mapa e narrando no rádio do capacete para Houston descrições de coisas como cores e texturas da superfície. Logo o grau de subida começou a ficar completamente íngreme – cerca de dez graus de inclinação - e ambos respiravam forte o suficiente para serem ouvidos pelo pessoal de Houston. A superfície era macia e coberta desordenadamente com várias rochas do tamanho de um punho.Com a continuação da subida e da inclinação, Shepard pediu a Houston um descanso. Seu ritmo cardíaco estava subindo a mais de 140 batidas por minuto e ele precisou parar. Como na Apollo 12, a rígida junta da cintura das roupas usadas pelas primeiras missões Apollo estava se fazendo sentir. Shepard e Mitchell pararam na primeira pedra redonda de bom tamanho que alcançaram – uma com cerca de 4 m de comprimento, 1 de altura e 1 de largura. Sentar estava fora de questão, mas eles podiam ao menos ficar em pé descansadamente por alguns minutos, enquanto tiravam uma sequência de fotos panorâmicas e alguns close-ups da pedra.Shepard analisou a situação. Eles estavam fora do ML há cerca de duas horas e tinham talvez outros quinze ou vinte minutos até que tivessem que parar para coletar rochas] do leito e então se dirigir de volta ao módulo. Apesar de nenhum deles ter muita fé na própria capacidade de julgar distâncias na superfície sem cor e sem marcos da Lua, Shepard estimou que no presente ritmo, levaria pelo menos outra meia hora até a borda. Eles podiam continuar a subida até o cimo da cratera no interesse da ciência, mais do que pelo orgulho de astronauta.Poucos minutos depois, eles chegaram ao topo de uma crista. Parecia que eles haviam atingido a elevação máxima, mas ele não podia ter certeza e além do mais Mitchell suspeitava que eles estavam ao sul de onde precisariam estar; mas o solo desigual tornou difícil identificar marcos na terra e Shepard não estava disposto a forçar o resultado. Eles não podiam estar exatamente certos de onde estavam – não dentro de várias dezenas de metros. Qualquer um dos vários morros e cumes à frente deles – ou para o outro lado – poderia estar escondendo uma grande cratera. Eles tinham que estar bem perto, certamente a menos de cem metros, mas agora realmente era hora de parar. No fim, eles estiveram a vinte ou trinta metros da borda da cratera Cone. Faltaram apenas mais alguns passos.
Retorno ao módulo lunar

Por um momento antes de voltarem ao sopé da pequena colina, Shepard e Mitchell fizeram uma pausa para recuperar as energias e admirar a vista. Embora estivessem olhando para longe e fora do Sol, eles estavam alto o suficiente para poder ver sombras nas crateras maiores, sombras que davam à paisagem, um pouco de textura. Os marcos no solo que eles usaram durante a aproximação final do pouso estavam claramente visíveis em volta do ML na distância, e logo além dele, o conjunto dos equipamentos colocados no solo da Lua reluzia ao Sol como uma pequena jóia. Durante todo o dia eles tiveram problemas tentando julgar distâncias, porque não haviam objetos familiares para fornecer uma escala, diferenças de cores para quebrar a cena, nem névoas para ajudar a diferenciar crateras menores relativamente perto de outras grandes na distância. Com experiência, eles poderiam ter usado a presença ou ausência de pedras nas bordas das crateras como uma indicação do diâmetro delas, e em consequência disso, da distância até ela. Mas para os seus olhos pouco treinados, só o ML Antares fornecia escala. Estava um quilômetro ao longe ou parecia assim.A viagem de volta foi rápida e sem acontecimentos. A medida que eles desceram, as sombras gradualmente desapareceram e eles tiveram que manter a atenção próxima do chão em frente. Quando voltaram a um chão relativamente nivelado, pequenas crateras começaram a aparecer quase sem aviso, mas como estavam à velocidade de caminhada, não tiveram problemas percorrendo seu caminho. A algumas centenas de metros do ML eles fizeram outra longa pausa científica, antes de ficarem ocupados com o encerramento de suas atividades.Nestes momentos finais na superfície de Fra Mauro, os efeitos combinados da noite insone e a dura e, de certa maneira, frustante escalada da encosta da cratera estavam começando a aparecer. Eles estavam ficando irritados e durante os estágios finais da travessia, o pessoal de Houston ouviu alguns “maldição” e “inferno”, que indicavam como os dois estavam ficando cansados.As tripulações Apollo geralmente evitavam imprecações, pelo menos quando estavam usando microfones abertos. Consciente ou inconscientemente, todos eles escolhiam as palavras para agradar à sua audiência e apenas em situações estressantes algum deles quebrava o acordo mudo contra praguejar num microfone ao vivo. Shepard e Mitchell estavam cansados. Estavam se sentindo apressados e um pouco preocupados de que não tivessem feito tudo e aborrecidos porque não tinham achado a borda da cratera Cone.As missões Apollo eram tão curtas – as três primeiras, em particular – que tudo que os astronautas tinham tempo de fazer era uma interessante seleção de amostras que enfatizasse a variedade. E no caso da Apollo 14, a tripulação era especialmente pressionada pelo tempo. Durante sua subida da Cone, eles não tiveram tempo suficiente para fazer muito mais que agarrar amostras de pedras e de solo. Porém, eles demonstraram que era possível fazer longas travessias caminhando sobre terreno moderadamente difícil. Talvez se eles tivessem volteado seu caminho de subida pelo lado da colina ao invés de fazerem um assalto frontal, a subida não tivesse sido tão árdua.
Jogando golfe na Lua

Mas de qualquer maneira, Shepard e Mitchell foram os primeiros a subir a pé uma colina na Lua e, apesar de que o jipe lunar proporcionaria uma maneira muito mais eficiente e rápida de se fazer geologia lunar, a experiência deles mostrou que, com algum cuidado e evitando subidas íngremes, as próximas tripulações poderiam ser capazes de caminhar de volta ao ML no caso de quebra de um jipe.A Apollo 14 foi uma importante peça de preparação para as sofisticadas missões do Programa Apollo que a seguiriam - as missões de maior duração e com o uso do jipe lunar – e também entrou para os livros de recordes. Alan Shepard teve a chance de dar algumas tacadas numa bola de golfe que ele levou da Terra. A desengonçada roupa pressurizada de astronauta o forçou a dar a tacada só com uma mão e ele só golpeou o ar (ou vácuo?) nas duas primeiras tentativas. Mas na terceira, acertou a bola e ela se foi por milhas e milhas e milhas, ele diria. A verdade é que, mesmo que não tenha sido feita com espetacular maestria, essa foi a primeira tacada de golfe fora do planeta Terra.

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