segunda-feira, 9 de março de 2009

Encouraçado Brasileiro Minas Gerais.


Em 1903, o General e engenheiro naval Italiano Vittorio Cuniberti escreveu uma série de artigos para a revista Jane´s Fighting Ships que iria revolucionar a concepção a respeito de belonaves. Segundo aquele engenheiro, os vasos de guerra deveriam ser equipados apenas com grandes canhões, desenvolver altas velocidades (20 nós) e dispor de blindagens maciças (12 polegadas ou 30,48cm).De início, as idéias de Cuniberti foram rotuladas de inviáveis, por constituírem "ficção científica"; porém, não muitos anos depois acabaram por ser adotadas pelas marinhas de diversos países.Assim, em 1905 a Marinha Imperial Japonesa batia a quilha do Aki, enquanto que coube à Marinha Britânica lançar ao mar em 1906 o HMS Dreadnought. Ambos incorporavam as prescrições de Cuniberti, embora o vaso japonês, em virtude de problemas técnicos, veio a ser concluído apenas depois de cinco anos (1911) como um "dreadnought híbrido" (ou semi-dreadnought).
Portanto, o HMS Dreadnought deu início a uma nova geração de vasos de guerra, a qual se tornou conhecida pelo seu nome.A construção dessa classe de belonaves verificou-se durante a corrida armamentista da primeira e segunda décadas do século XX ("A corrida naval" de 1906 a 1914), na qual as marinhas de diversas nações, principalmente da Alemanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Japão, equiparam-se com vasos construídos em grande parte segundo as recomendações de Cuniberti.No Brasil, o Barão do Rio Branco foi o grande propagandista da modernização e do aumento do poderio naval brasileiro no princípio do século, recebendo do Congresso Nacional a apóstrofe "Dinheiro haja, Senhor Barão!".Como parte do programa de ampliação e modernização da esquadra brasileira, iniciado em 1906, encomendou-se a construção aos estaleiros ingleses dos "encouraçados-dreadnought" .Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.Os dois primeiros foram concluídos e incorporados à esquadra brasileira em 1910, ao passo que o último acabou por ser vendido à Turquia, e, posteriormente, foi desapropriado pela Inglaterra, que o engajou à Royal Navy durante a Primeira Guerra Mundial com o nome de HMS Agincourt.
Minas Gerais foi encomendado aos estaleiros da Armstrong Whitworth, Grã-Bretanha. Teve a quilha batida em 17.04.1907 e foi lançado em 10.09.1908. A construção findou-se em 06.01.1910.Quando entrou em serviço constituía, juntamente com o seu irmão gêmeo São Paulo, uma das belonaves mais poderosas do mundo : montava doze canhões de 12 polegadas em seis torres, bem como artilharia secundária composta por vinte e dois canhões de 4.7 polegadas, além de oito outras peças de 3 libras.Tornou-se motivo de orgulho nacional, tanto que a valsa "Oh! Minas Gerais", com a melodia italiana Vieni sul mar , foi composta em sua homenagem, e não ao Estado da Federação brasileira.A nova belonave exigia grande equipagem, principalmente de foguistas, de maneira que para suprir a carência de pessoal foram contratados até mesmo marinheiros estrangeiros (ingleses, portugueses, gregos, americanos e barbadenses).
Na noite de 22.11.1910 eclodiu a bordo do Minas Gerais, quando este se encontrava fundeado na Baía da Guanabara, o motim que passou à história como a "Revolta dos Marinheiros" ou a "Revolta da Chibata".Diversas são as causas apontadas para o motim : recrutamento forçado que importava em 10 ou 15 anos de serviço militar obrigatório, punições corporais (açoites), excesso de trabalho, péssima alimentação e salários irrisórios; porém, nas palavras do historiador Pedro Calmon, "o pretexto era o inumano regime de castigos de bordo, vergonhoso, mas subsistente, nessa armada que se renovava."No dia 16 de novembro, o marinheiro Marcelino Rodrigues Menezes fora chicoteado, recebendo duzentos e cinquenta golpes do próprio comandante do "Minas".Apontam os historiadores, também, que um dos motivos de irritação dos marinheiros era o tratamento dispensado aos ingleses que foram contratados para suprir as deficiências de pessoal e que se encontravam a bordo do Minas Gerais : enquanto a ração dos marujos brasileiros era péssima e escassa, os ingleses recebiam alimentos em abundância e de melhor qualidade.
Na indigitada noite, quando o Comandante Batista das Neves retornava de um jantar oferecido a bordo do navio francês Duguay-Trouin, os marinheiros cercaram-no e, depois de breve luta, o mataram a tiros e coronhadas. Na seqüência, os demais oficiais foram mortos, conforme acordavam e saíam dos camarotes para verificar o que ocorria.No entanto, o 2º Tenente Álvaro Alberto, embora gravemente ferido, pois fora atingido por golpes de baioneta ao defender o Comandante Batista das Neves, alcançou o São Paulo com um escaler e conseguiu notificar os demais oficiais da frota, que escaparam para a terra.Os vasos São Paulo, Deodoro e Bahia, privados de seus oficiais, aderiram ao motim no decorrer da noite.Na manhã seguinte, comandados pelos marinheiros de primeira classe João Cândido Felisberto e Francisco Dias Martins, os amotinados bombardearam a Cidade do Rio de Janeiro, atingindo a Ilha de Villegaignon e adjacências. Alguns disparos, efetuados sem muita precisão, foram direcionados contra o Palácio do Catete, sede do Governo Federal.Declarações da equipagem do Duguay-Trouin dão conta que os revoltosos manobraram os navios com perícia.Também no dia 23 de novembro, pela manhã, o deputado e capitão-de-mar-e-guerra José Carlos de Carvalho esteve a bordo do Minas Gerais e do São Paulo, para dar início às negociações com os marinheiros.
Nos dias subseqüentes, os navios que não aderiram à revolta, na maioria contratorpedeiros, entraram em prontidão para torpedear as belonaves amotinadas. Em 25 de novembro, o Ministro e Almirante Batista Leão emitiu a ordem de afundar a "Esquadra Branca" : "hostilize com a máxima energia, metendo-os a pique sem medir sacrifícios."Entretanto, depois da anistia votada pelo Congresso Nacional em 25 de novembro, as negociações obtiveram êxito, de modo que os revoltosos se entregaram no dia 26 de dezembro.A Primeira GuerraCom a entrada do Brasil na guerra, em 26 de outubro de 1917, planejou-se enviar o Minas Gerais e o São Paulo à Europa, para que se juntassem à Royal Navy em Scapa Flow.Contudo, as belenonaves que em 1910 eram os encouraçados mais modernos do mundo, em 1917 já necessitavam de séria atualização dos equipamentos para fazer frente às exigências da guerra naval que se desenvolvia na Europa.Desse modo, a inadequação tecnológica e a impossibilidade de atualizá-lo em tempo hábil impediu que o Minas Gerais integrasse a Divisão Naval enviada para participar da I Guerra.
A Modernização de 1935/1939A exemplo do que já ocorrera com os "dreadnoughts" ingleses, americanos, italianos e japoneses, o Minas Gerais foi submetido a uma reforma no quadriênio 1935/1939 : as caldeiras a carvão foram substituídas por máquinas a óleo que passaram a lhe proporcionar a potência de 30.000 Hp, enquanto que a superestrutura foi completamente reformulada.Por sua vez, as duas chaminés de descarga, em virtude da substituição dos propulsores, foram extraídas e trocadas por uma única nova.O armamento sofreu modificações também, pois parte da artilharia secundária foi removida para dar espaço às novas peças de defesa antiaérea : quatro de três polegadas e quatro de 40mm (Bofors) montadas em torres gêmeas.O "novo perfil" do Minas Gerais lhe deu sobrevida de dezesseis anos.

A Segunda GuerraNo decorrer do ano de 1942, o Brasil foi levado à guerra em razão dos ataques de submarinos alemães e italianos aos seus navios mercantes. Havia necessidade premente de defesa da marinha mercante contra a ameaça do Eixo, sendo certo que muitas das operações de torpedeamento ocorreram próximas à costa.No entanto, o velho encouraçado não se mostrava apropriado para as missões de escolta dos comboios de navios mercantes e, por outro lado, mesmo depois da reforma da década de 30, não tinha condições de participar de operações de superfície, porque não fora suficientemente modernizado.Coube-lhe, porém, durante a II Guerra, a designação para servir de bateria flutuante em defesa do porto de Salvador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário