quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Apollo 12

Insigena da Apollo 12

Alan Bean

Alan Bean, Richard Gordon e Charles Conrad Jr.

A Apollo 12 foi a segunda missão do Programa Apollo a pousar na superfície da Lua e a primeira a fazer um pouso de precisão num ponto pré-determinado do satélite, a fim de resgatar partes de uma sonda não tripulada enviada dois anos antes, a Surveyor 3, e trazer partes dela de volta à Terra, para estudos do efeito da permanência lunar sobre o material empregado no artefato.Após o sucesso do primeiro pouso lunar levado a cabo pela tripulação da Apollo 11, o comitê de seleção de área de pouso da NASA escolheu para destino da Apollo 12 um interessante local no Oceano das Tormentas (latim: Oceanus Procellarum), cerca de 1500 km a oeste do Mar da Tranqüilidade, local do pouso anterior.Embora a área não tenha sido a primeira escolha da comunidade geológica, ela tinha três pontos favoráveis. Primeiro, era um local razoavelmente plano. Havia algumas grandes crateras em volta do alvo escolhido, mas não apresentava riscos maiores do que aqueles que Armstrong e Aldrin haviam enfrentado. Segundo, os astronautas poderiam coletar rochas e amostras do solo de uma das maiores planícies lunares, de um lugar coberto com material ejetado da jovem e proeminente cratera Copernicus, localizada a cerca de 300 km ao norte dali. E em terceiro lugar, com a tripulação da Apollo 12 tentando fazer o primeiro pouso lunar de precisão, se o comandante Charles 'Pete' Conrad e seu companheiro de vôo, o piloto do Módulo Lunar Alan Bean pousassem perto o suficiente do alvo, eles poderiam caminhar até a sonda Sorveyor 3, uma sonda não-tripulada que pousou na Lua em 19 de abril de 1967, e trazer de volta algumas peças dela. Isto oferecia aos engenheiros da NASA a extraordinária possibilidade de examinar partes da espaçonave que haviam sido expostas a condições lunares por um período de tempo relativamente longo – 31 meses nesse caso – informação que algum dia poderia ser útil no design de bases lunares ou estações espaciais. Se tudo corresse bem, Conrad e Bean poderiam visitar a Surveyor, fotografá-la e retirar alguns componentes para trazê-los de volta à Terra.A cratera onde está a Surveyor é membro de um grupo de crateras bem visíveis em fotografias da face da Lua. Quando visto da órbita, o grupo quase se parece a um Boneco de Neve, com a cratera Surveyor formando o torso avantajado do boneco. Usando fotos do satélite Lunar Orbiter e as fotos feitas pelas tripulações anteriores das Apollo, a NASA construiu um ótimo modelo realístico da área de pouso escolhida, de maneira que, durante o treinamento no simulador do Módulo Lunar, a vista na janela do comandante Conrad se parecesse o suficiente com a coisa real, para que no momento culminante do pouso ele tivesse uma confortável sensação de rotina, algo fundamental para que se conseguisse o desejado pouso de precisão.Na hora do lançamento da Apollo 12 em Cabo Canaveral, a tripulação levou um susto quando, nos primeiros momentos da subida, um raio atingiu o foguete Saturno V e destravou virtualmente todos os controles de circuitos elétricos do Módulo de Comando da Apollo, o Yankee Clipper. Foi uma experiência de tirar o fôlego para as pessoas no solo, mas a tripulação se manteve calma, o foguete continuou seu caminho para a órbita e em instantes eles tiveram tudo sob controle novamente. Não houve nenhum dano permanente e o vôo para a Lua e os preparativos para a descida foram absolutamente normais. No dia da alunissagem, 19 de novembro de 1969, Charles Conrad e Alan Bean estavam em ótimo estado de espírito.Enquanto se desligavam do MC Yankee Clipper e mergulhavam em direção ao Oceano das Tormentas a bordo do ML Intrepid, Conrad e Bean tinham boa visão do horizonte e das regiões centrais montanhosas da Lua. Quando chegaram a 200 metros de altura do solo, Conrad assumiu os controles manuais do Intrepid para pousá-lo exatamente dentro da cratera estabelecida, porém o exaustor do Módulo Lunar levantou uma quantidade muito grande da fina poeira lunar, que permaneceu suspensa pela baixa gravidade e ele foi obrigado a pousar quase às cegas, baseado em seu treino no simulador, sem saber exatamente se havia tocado o solo no local certo.Durante as primeiras horas após o pouso, enquanto ele e Bean fizeram uma rápida refeição e se preparavam para o primeiro dos dois períodos de quatro horas em atividades extra-veiculares - AEV - Conrad passou algum tempo tentando imaginar onde afinal eles haviam pousado. As marcas no terreno que haviam sido tão óbvias quando vistas de cima, deixaram de ser quando vistas do solo. Olhando a oeste pela janela, ele e Bean viram uma planície ondulada e meio inexpressiva. Entre outras coisas, não havia sinal evidente da cabeça do Boneco de Neve.Foi Richard Gordon, viajando sobre eles no Módulo de Comando, 100 quilômetros acima da superfície da Lua, quem apontou as coordenadas da alunissagem. Quando fez a sua segunda passagem em órbita após o pouso do módulo, ele olhou no sextante tentando ver o Intrepid na superfície, uma façanha que Michael Collins - o astronauta que ficou a bordo do MC Columbia em órbita, durante o primeiro pouso da Apollo 11 - nunca conseguiu. Apontando o aparelho para o local do Boneco de Neve, Gordon não demorou até que achasse a sombra de 50 metros do Intrepid, o único objeto que fazia alguma sombra na superfície do local, e avistasse a sonda Surveyor a pouca distância deles, passando imediatamente as instruções visuais para Houston e para os astronautas na superfície. O Intrepid havia pousado dentro do Boneco de Neve, a menos de 200 metros da sonda Surveyor 3, conseguindo realizar o primeiro pouso de precisão na superfície da Lua.Com o pouso de precisão concluído e confirmado, a próxima tarefa era vestir o equipamento de sobrevivência, sair para colocar em funcionamento o equipamento científico e, se sobrasse algum tempo antes que eles tivessem de voltar ao ML para um período de descanso, dar um pequeno passeio em volta da área. Conrad e Bean formavam uma dupla de relaxados e felizes astronautas. Eles não seriam mencionados na maioria dos livros de História, mas isso não importava, ajudava a tirar um pouco da pressão. Eles riram e contaram piadas, satisfeitos pela situação e ansiosos para começar.Apesar deles terem se atrasado nos prazos planejados enquanto tentavam descobrir aonde tinham pousado, os dois astronautas foram modelos de eficiência quando começaram a ajustar os equipamentos de sobrevivência e quatro horas após tocarem o solo enviaram mensagem à Houston pedindo para despressurizar a cabine e começar sua odisséia.'Pete' Conrad não era uma pessoa muito alta. O pulo de um metro do último degrau da escada tinha sempre parecido um pouco intimidador, mas agora ele dava a Conrad a chance de dar o tom para a missão. O tempo para frases históricas tinha passado, agora era hora de se divertir e a frase de Conrad ao pular da escada do Intrepid para o solo lunar foi sem dúvida a mais divertida das missões Apollo: “Este pode ter sido um pequeno passo para Neil, mas para mim que sou baixinho é enorme! Yuuupiiii!!”Bean logo se juntou a Conrad e depois que deram uma pequena caminhada em volta e saborearam a visão da Surveyor pousada tão próximo, eles começaram a descarregar o equipamento científico. Assim como na Apollo 11, havia uma câmera de TV, um sismógrafo e um refletor a laser. Eles também tinham um analisador de vento solar mais sofisticado e uma quantidade de outros pacotes físicos que compunham o ALSEP ( Apollo Lunar Surface Experiments Package – o conjunto de equipamentos e experimentos levados pelas missões Apollo à Lua), que foi retirado do vôo da missão anterior por problemas de peso. A maioria do equipamento, junto com uma estação central de força e um transmissor, foi embalado em dois pacotes compactos guardados na plataforma inferior do Módulo.
Problemas com o equipamento

Apesar dos problemas de locomoção pela falta de flexibilidade das roupas pressurizadas, em terem que usar um martelo para soltarem uma peça presa no pacote de experimentos e com a confusão com cabos que se mantinham enrolados na superfície como mangueiras de jardim, quase flutuando pela falta de gravidade, sem se esticarem completamente e atrapalhando os passos, três horas após deixarem o ML os astronautas acabaram de montar o equipamento. Eles haviam gastado cerca de uma hora e meia a mais que o prazo estabelecido, mas estavam bem satisfeitos. Ambos estavam relaxados – com batimentos cardíacos caindo para 80 por minuto – e Conrad tinha assobiado enquanto trabalhava, tendo sido possível assobiar dentro de uma roupa com 3.7 psi de pressurização.A única coisa que realmente deu errado durante a jornada foi a perda da câmera de TV. Esta era a primeira câmera colorida de TV na Lua e, infelizmente, ela deixou de funcionar enquanto Bean a estava movendo para fora do Intrepid. Como se suspeitou no momento, ele acidentalmente a apontou para um reflexo brilhante do Sol fora do ML e queimou o eletrodo no tubo de imagem. Por sorte, a câmera não era a única fonte de registro de imagens. Ambos tiraram muitas fotografias de rochas, crateras, pegadas e dos equipamentos, que eram de interesse fundamental para engenheiros e cientistas. Porém, as coisas estavam indo tão bem e a tripulação tendo tão bons momentos – contando piadas, rindo, fazendo zumbidos e cantando - que a falta de uma imagem ao vivo era uma frustração real para os que ouviam a aventura aqui da Terra.Com a montagem dos experimentos e equipamentos terminada, abundância de oxigênio e água fresca de reserva, o comando em Houston deu a Conrad e Bean meia hora de prorrogação, de modo que eles puderam caminhar até a beirada coberta de seixos espalhados da cratera mais próxima, a Meio Crescente, um curto passeio de setenta metros ao norte e um pouco a oeste de onde estavam. Teria que ser uma caminhada rápida porque os controladores do vôo os queriam de volta ao ML em cerca de 20 minutos, prontos para iniciar o encerramento das atividades. Esta era a primeira oportunidade da tripulação de por em ação seu treinamento geológico. Eles tiraram fotografias e coletaram algumas amostras. No caminho, encontraram contas brilhantes pousadas na superfície e, na cratera encontraram rastros de leitos rochosos expostos nas paredes internas. O passeio lhes deu alguma prática para o sério trabalho geológico que eles fariam durante a segunda atividade extra-veicular. Os dois fizeram um bom tempo no caminho de volta à nave, cobrindo os duzentos metros em cerca de 5 minutos. Apesar de duas paradas para pegar algumas rochas irresistíveis, eles mantiveram uma velocidade média de 2,5 km por hora. Na segunda saída, eles planejavam aumentar seu raio de ação para mais ou menos 400 metros e a curta corrida provou que caso algo tornasse necessário se abrigarem na espaçonave, eles não teriam problema em voltar rapidamente.
Tentando dormir

Após 4 horas na superfície lunar, a tripulação do Intrepid repressurizou a cabine e retirou seus capacetes e luvas, mas tiveram que continuar com os macacões porque o processo de tirar e colocar novamente as roupas no dia seguinte levava quase duas horas, e com o tempo bastante limitado das primeiras missões na Lua, estas duas horas não podiam ser gastas apenas com vestuário. Mais importante ainda, a NASA e as tripulações ainda não estavam preparadas para arriscar danos em zippers e outros selos do macacão durante o tira-e-bota. Assim eles continuaram com as incômodas roupas, fizeram uma refeição, conversaram com o comando da missão em Houston sobre a segunda AEV e três horas e meia após fecharem as escotilhas, cobriram as janelas – lá fora o Sol continuava brilhando no dia lunar - e tentaram dormir.Conrad e Bean não dormiram bem. As redes de dormir e o aquecedor foram feitos para proporcionar uma noite mais agradável que a tripulação da Apollo 11 teve, mas ninguém poderia fazer nada com relação a excitação. Bean tomou um tablete para dormir mas não adiantou muito. Pela 'manhã', Conrad informou que eles tiveram umas cinco horas de sono, mas na realidade eles praticamente não conseguiram dormir. Uma hora antes da hora marcada para o despertar, foram eles que chamaram o Centro Espacial Johnson. Estavam ansiosos para sair de novo. Após uma rápida refeição, começaram os preparativos das suas roupas e do Módulo Lunar para as atividades do dia e duas horas e meia após acordarem estavam novamente na superfície.
Examinando a Surveyor 3

Durante a primeira parte da caminhada, Conrad e Bean deram olhadas rápidas na estrutura do solo abaixo de seus pés. Eles haviam pousado no meio do Oceano das Tormentas, um antigo 'mare' ou mar, que havia se formado a cerca de quatro bilhões de anos, quando uma bacia começou a encher com lava basáltica jorrando do interior lunar. A cratera da Surveyor 3 propriamente dita, é velha e muito gasta. A medida que Conrad e Bean se aproximaram da tênue margem, eles descobriram que assim como o chão perto do ML, o solo era bem compactado. Havia apenas um punhado de rochas em evidência – todas elas muito pequenas. A nave Surveyor está assentada mais ou menos na metade do declive da cratera, tendo pulado e escorregado um espaço pequeno quando pousou. Justificando a remota possibilidade de que a sonda estivesse em condições de escorregar mais um pouco, os dois decidiram descer a rampa até o nível da Surveyor e então se aproximar dela seguindo uma linha de contorno. Eles não tinham intenção de se aproximar por baixo. A medida em que desceram o declive de dez graus, eles descobriram que o solo era apenas um pouco mais fofo que na borda; e quando viraram para o leste, a única dificuldade que tiveram foi que o declive tornou mais difícil para eles pular de pé em pé. Eles não podiam se mover com a rapidez que faziam no nível plano do solo. Conrad até admitiu que a superfície do fundo da cratera era dura o suficiente para que, se soubesse disso antes do tempo, ele fosse capaz de pousar o Intrepid no largo fundo.
Ao se aproximarem da Surveyor, eles se surpreenderam em descobrir que a sonda lunar, antes branca, havia aparentemente se tornado levemente marrom durante seus três anos na Lua. Isso era um verdadeiro quebra-cabeça. O Sol brilhava na Lua e podia esmaecer cores, mas eles quiseram saber de Houston se tinham certeza que a sonda ali pousada era mesmo pintada do mesmo branco brilhante que a cópia que eles usaram nos treinos. Poderia ser uma capa de poeira? E porque marrom se toda a poeira na área era distintamente cinza? O único jeito de descobrir era esfregar o vidro do espelho da sonda – que ficou limpo – e então esfregar um pedaço da pintura. Apesar de um pouco da pintura ter se lascado quando Bean a esfregou, ficou logo óbvio que embora Conrad tenha pousado a 200 metros dali, uma pequena parte da poeira que ele levantou com o motor do módulo lunar cobriu toda a distância até a Surveyor. Os astronautas andaram em volta da sonda, tentando ver se o ângulo do Sol fazia alguma diferença na cor aparente, mas não fazia. A verdade é que em camadas suficientemente finas e com o fundo certo, o solo lunar parece marrom.Durante quarenta minutos, eles examinaram a nave robô e as marcas que ela havia feito no solo quando pousou. Fotografaram a vala que ela escavou com sua pá e então usaram um grande pino cortador para remover a câmera de TV, a pá e algumas outras partes para trazer de volta à Terra.Nas duas AEV lunares, Charles Conrad e Alan Bean gastaram 7 horas e 45 minutos fora do Módulo Lunar, de um total de cerca de 31 horas que passaram pousados no satélite.. Exceto pela perda da TV logo no começo, o desempenho deles foi perfeito e cumpriram virtualmente todos os objetivos da missão. Trouxeram de volta à Terra um tesouro de fotografias, rochas, amostras de solo e partes da Surveyor e demonstraram que tanto o ML podia ser pousado com precisão num alvo pré-escolhido, quanto uma AEV de 4 horas estava longe do limite de um dia de trabalho para um astronauta bem treinado.Esta era apenas a segunda missão de pouso e assim como a Apollo 12 representou um salto decisivo em complexidade operacional sobre a Apollo 11, mais progressos ainda estavam guardados. Assim que o Módulo Lunar tivesse sido modificado para carregar um carro lunar e suprimentos para estadas mais longas, a produtividade das missões cresceria mais ainda.Mas acima de tudo, a Apollo 12 foi particularmente notável no fato de que 'Pete' Conrad e Alan Bean tiveram um bocado de diversão. Em boa medida, o contraste com a Apollo 11 era uma questão de personalidades. A quieta reserva de Neil Armstrong versus a alegre jovialidade de Charles Conrad. Mas na época de seu vôo pioneiro, Armstrong e Edwin Aldrin também tiveram que trabalhar numa atmosfera de emoção e julgamento público, sempre cientes das atenções de uma audiência global e da História. Eles não tiveram estas pesadas questões para restringi-los, então eles faziam zumbidos, cantavam e riam em suas caminhadas pelo solo da Lua.
Curiosidades

A sonda Surveyor 3 não havia sido esterilizada antes de ser enviada à Lua em 1967. Os cientistas queriam descobrir se os micro organismos terrestres haviam sobrevivido ao ambiente inóspito da Lua. Foi descoberta uma pequena quantidade da bactéria Streptococcus mitis em uma peça da câmera de TV da Surveyor que, postas em cultura, surpreendentemente voltaram a se reproduzir. Após o vôo da Apollo 12, Alan Bean deixou a NASA e tornou-se pintor, ficando rico pintando telas com as paisagens lunares que havia visto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário