quinta-feira, 24 de março de 2011

O Império do Algodão em meados da década de quarenta (Ingá-PB)

Em 1932, no Ingá, em decorrência do grande impulso que o setor algodoeiro vinha sofrendo, já havia instalados 26 descaroçadores e 19 bolandeiras com capacidade de produzir 190 fardos de algodão por 10 horas de trabalho. Tanto é que, nesse ano, os principais produtos vendidos pelo município foram tecidos e algodão.
Após 1934 ocorre um avanço na agricultura e na indústria do algodão em todo o Estado, levando o governo a adotar urna série de novas medidas incentivadoras. Ex.: a compra de 1500 maquinismos para a agricultura, criação de campos de sementes para melhoria da qualidade da produção, proibição do plantio do algodão comum nos municípios de Ingá, Itabaiana, Pilar e parte de Campina Grande, as melhores áreas produtoras e a isenção de impostos para a instalação de novas usinas de beneficiamento. Em 1935, no governo Argemiro Figueiredo, já estavam estabelecidas na Paraíba Anderson Clayton e a Sanbra, com estabelecimentos em Campina Grande, Alagoa Grande, Cabedelo, Cajazeiras, Patos e, em 1936 no Ingá.
Em Ingá, a instalação da Anderson Clayton, com máquinas modernas e as isenções do governo, provocou aos poucos o desaparecimento dos pequenos vapores. A Anderson Clayton contratava um preposto, geralmente fazendeiro da região que servia de intermediário comercial, comprando o algodão dos outros produtores para ser beneficiado por seus motores.
Por outro lado, a empresa “comprava na folha”, isto é, fazia a compra antecipada da produção dos pequenos produtores, adiantando lhes o capital para fazer a plantação. No final da safra, recebia o algodão pelo preço pré-fixado, independente do preço “para cima” que o produto pudesse vir sofrer no mercado internacional.
Eles compravam em Juarez, Itatuba, Mogeiro (...).Aqui foi uma jóia, pra você ver o plantio superlotado, ficava assim mais de quinhentos carros de algodão no patio, cobertos com aquela lona, para descaroçar”. (Depoimento de morador - 25.11.89)Nesse período, convivendo com a Clayton, também funcionavam de 15 a 20 bolandeiras de outros produtores como Manoel Bacalhau, Manoel Cândido e José Luz, Porém, os descaroçadores mais antigos iam parando porque depreciavam as fibras do algodão. Dessa forma, os grandes estabelecimentos aos poucos absorviam os pequenos. Em toda a Paraíba, durante o ano de 1935, dois terços dos mais de 800 descaroçadores pequenos, então existentes, encerraram sua carreira.
“A cada chaminé da Anderson Clayton, da Sanbra e do grupo moderno que se aparelhou ao aparecimento destes, paravam cinqüenta “vapores” em torno”. (Mariz, 1978, p122).
Nessa época, a exportação do algodão paraibano destinava-se aos portos do Rio de Janeiro, Santos, Hamburgo, Liverpool e Bremen, entre outros. O Ingá era tido como município padrão da expansão algodoeira e da sua modernização. Contava, inclusive, com a existência de um campo de demonstração do governo que distribuía sementes selecionadas para os agricultores.
Quem planta o algodão, para ganhar dinheiro, para conseguir independência econômica, abandona processos velhos, dizendo adeus, aliviados à enxada, símbolo da pobreza, e segue o exemplo dos agricultores do Ingá”. (Jornal “A União”, 15.03.36).
Da segunda metade da década de 30 até o início dos anos 40, no Agreste e, em especial, no Ingá, a produção atingiu um alto índice de produtividade, tendo um mercado externo garantido.
No início da década de 40, o Ingá era o segundo maior produtor de algodão da Paraíba (o maior do Agreste), superado apenas por Patos. Suas culturas eram realizadas com base em critérios da maior modernidade para a época.
As sementes adquiridas para venda, neste município, além de terem obrigatoriamente os dados de sua procedência, são expurgadas e submetidas a exames que determinam o seu valor germinativo antes e depois de expurgada”. (“Jornal A União” - 09.09.40).
Os maiores produtores ingaenses nesse período eram:“PROPRIETÁRIOS - Francisco Bacalhau - Américo Tito - José M.Bacalhau- Francisco Bacalhau- Euclydes M.Bacalhau- João Alves Trigueiro- João Alves Trigueiro.
PROPRIEDADES HECTARES - Primavera 40Amargoso lOTambor 10Várzea Nova 20Camaleão 10São João 10 Bacamarte 25.
Nesse período (1938), a Vila do Ingá é elevada à categoria de cidade, e a povoação de Riachão à categoria de Vila.
A vida cultural do município era muito movimentada, contava com um hotel que poderia ser considerado, na época, como um dos melhores do Estado,o cinema Santo Antônio (inaugurado em 1927), bons times de futebol e uma banda de música (harmoniosa).
No entanto, o comércio local era muito fraco, a ponto das próprias compras domésticas serem feitas em João Pessoa e Campina Grande e único estabelecimento de crédito ali existente, em 1940,era a “Caixa Rural do ingá” que, muito modestamente, financiava as lavouras para os agricultores menos favorecidos, ou seja, a riqueza gerada pelo algodão não trouxe desenvolvimento econômico para a cidade.
A qualidade de vida da população, em geral, continuava precária. Nos meses de maio a setembro (inverno), o impaludismo tornava-se freqüente tanto na sede quanto nos distritos. Tuberculose, bouba e sarampo também faziam inúmeras vítimas. A saúde encontrava-se em estado de sub-abandono só em 1941, a Prefeitura criou um Posto Médico Municipal (não houve qualquer intervenção ou ajuda do Estado neste sentido), principalmente para distribuir quinino e azul de metileno à população que sofria de no ingá.
Por outro lado, o índice de criminalidade no município era muito grande, com muitos registros de ferimentos graves e leves, homicídios, violência sexual, roubos e furtos.
“A violência sempre predominou no município de Ingá. Quando chegávamos a qualquer cidade (em qualquer repartição ou loja) que tinha que dizer que era do Ingá (por assinar documentos ou quando perguntavam), a palavra; ’Ingá” era como um tiro de canhão ou doença contagiosa. Às vezes, perguntavam: - É Ingá do Bacamarte? Terra de gente valente.
Os proprietários tinham seus jagunços escondidos só para matarem covardemente. Queriam todos pobres a seus pés. Exigiam serem mais respeitados do que Cristo (...).
Antigas histórias sobre a presença de bandidos e cangaceiros, em especial de Antônio Silvino, também são freqüentes, principalmente no atual distrito de Pontina. Mas, sabe-se que eles agiam, também em outras áreas onde haviam “coiteiros”.
Até no centro da cidade, nos bailes e restas não se tinha sossego, por nada ou qualquer besteira acontecia tiroteios e até mortes (Depoimento de uma moradora).
O cangaço do Amônio Silvino fazia diariamente seu itinerário entre Surrão, Ingá, Barrinha, Pedra Lavrada, Nogueira, Camurim até o Rio Paraíba, onde havia inúmeras cacimbas de água salgada (...)". (Depoimento de moradora).

Fonte: http://ruidasilvabarbosa.blogspot.com/2009/07/no-imperio-do-algodao-semeia-se-miseria.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário