quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Apollo 15

Insigena

David Scott, Alfred Worden & James Irwin

Os astronautas e o Jipe Lunar

James Irwin


Jipe Lunar Rover

Explorando a Lua

Apollo 15 foi a primeira das missões de caráter eminentemente científico à Lua após as primeiras missões de reconhecimento, e a primeira a utilizar o jipe lunar na superfície do satélite. A tripulação era composta por David Scott, Alfred Worden e James Irwin, o lançamento foi a 26 de julho de 1971 e o retorno à terra a 7 de agosto de 1971.Os astronautas Scott e Irwin passaram três dias na superfície da Lua, com um total de 18 horas fora do módulo lunar em atividades extra-veiculares. A missão foi a primeira a pousar em terreno acidentado, fora do mare lunar, e a tripulação explorou a região no primeiro transporte construído para se movimentar na Lua, afastando-se do módulo Falcon por distâncias não possiveis nas missões anteriores. A dupla de astronautas coletou um total de 77 kg de material lunar e os trouxe de volta à Terra.
Jipes lunares

As três primeiras missões Apollo foram, em princípio, um teste de engenharia de vôo. A exploração e a ciência eram de importância secundária e, além disso, os módulos lunares que voaram nestas missões simplesmente não podiam carregar muito equipamento. O módulo lunar havia sido construído como o mais espartano veículo capaz de completar uma missão de pouso, e sempre havia sido um problema achar espaço na capacidade de carga para equipamentos de exploração e experimentos científicos. A confiança na espaçonave – ligada a melhorias no desempenho – permitiu pequenos aumentos na soma de carga útil que poderia pousar na Lua, mas do ponto de vista prático, a missão anterior, a Apollo 14, era a mais sofisticada missão que poderia ser cumprida com o hardware original da Apollo.É claro que a NASA e a comunidade espacial como um todo, sempre quiseram um resultado melhor numa missão, do que uma dupla de astronautas andando na superfície poderia realizar durante uma estadia de trinta horas na Lua. No começo dos anos 50, o inventor de foguetes Wernher von Braun, o astrônomo Fred Whipple e o escritor de ciências Willy Ley, publicaram uma série de artigos na revista cientifica norte-americana Collier em que descreviam uma hipotética missão de pouso na Lua em larga escala. Eles imaginavam que uma equipe de cinquenta exploradores poderia fazer uma jornada para a Lua em três grandes naves de pouso, construídas e abastecidas na órbita terrestre. Duas das naves seriam capazes de fazer uma viagem à Lua e voltar, e no trecho de longo curso, cada uma carregaria uma tripulação de vinte pessoas. A terceira nave seria uma nave-cargueiro, levando uma tripulação de dez astronautas e, além do combustível para a viagem de volta, cerca de 300 toneladas de carga. Von Braun e os outros imaginavam que a tripulação poderia ficar na Lua por seis semanas, chegando logo após o amanhecer local, ficando durante aquele dia que durava duas semanas e a noite subsequente, partindo logo antes do pôr do sol do seu segundo dia lunar. Ao invés de viver nas naves, os exploradores poderiam, após descarregar o cargueiro, separa-lo em duas partes e usar os cilindros que se formariam como alojamentos – um como área para viver e outro para laboratórios e pesquisas.Evidentemente haveria uma grande quantidade de material a ser movimentado e Von Braun e os outros supriram a missão com guindastes, um em cada nave, e com três tratores de três toneladas. Uma vez a base estabelecida, os tratores-tailers poderiam ser colocados em uso como veículos de exploração, primeiro para viagens na vizinhança imediata da base e então, logo antes do amanhecer do segundo dia, para uma jornada cross-country de 300 kms a uma grande cratera onde, se esperava, seriam encontradas evidências para provar de uma vez por todas se as largas crateras lunares eram formadas por impactos ou por ação vulcânica.A expedição lunar imaginada por Von Braun era muito maior do que qualquer coisa que poderia ser possível para uma primeira missão mas, mesmo dentro das limitações do Programa Apollo, a NASA gostaria ao menos de desenhar e construir um versão de carga não-tripulada do Módulo Lunar para apoiar longas visitas e, eventualmente, uma modesta base lunar; mas no fim dos anos 1960, com orçamentos encolhendo e sonhos sendo guardados, tudo que era possível era atualizar o design do Módulo, de maneira que as tripulações pudessem pousar em versões mais robustas, capazes de deixá-los ficar por mais algum tempo e aumentar o raio de ação na superfície do satélite.Mas na medida em que se esperava que o trabalho de inspeção geológica e de exploração lunar fosse o foco principal das missões de três dias, havia discussões sobre também levarem junto um carro movido a energia elétrica, mas estimativas preliminares indicavam que só haveria espaço na capacidade de carga para um jipe pesando cerca de 225 quilos, e ainda não estava claro – pelo menos durante a época de Natal de 1967, quando os primeiros memorandos começaram a ser escritos – se um veículo útil e seguro, tão leve, poderia se construído. Mas em 1969, depois de vários esboços de projetos, a Boeing entregou à NASA três modelos do que seria o jipe lunar das missões Apollo.
O carro lunar da Apollo

O jipe lunar da Boeing estava muito longe do trator-trailer de sete passageiros, cabine fechada e dez toneladas das idéias de von Braun e seus companheiros, mas era uma pequena máquina elegante, lembrando um carrinho de golfe mais sofisticado. Vazio, ele pesava apenas 209 quilos e poderia ser dobrado e guardado para a viagem até a Lua como um intricado brinquedo. Uma vez montado na Lua, ele tinha três metros de comprimento por 1 ½ metro de largura, com o topo dos assentos gêmeos à cerca de 1 ½ do chão. Quando totalmente carregado com os dois astronautas e todo o seu equipamento, ele pesava 700 quilos; andava sobre quatro rodas de malhas de arame e quando completamente carregado, tinha um espaço livre, entre o fundo do carro, e o chão de 35 cm; tinha quatro rodas com tração elétrica em cada uma delas. A tração do jipe poderia ser feita com a dupla de rodas da frente, com as rodas de trás ou com todas as quatro rodas e à baixa velocidade, o jipe poderia girar num raio igual ao seu comprimento de três metros. Entre os assentos e um pouco à frente dos astronautas, havia um pequeno painel de instrumentos contendo indicadores de, entre outras coisas, a velocidade do carro, alcance e a posição com relação ao último lugar onde a tripulação tinha ativado o sistema de navegação - sempre um lugar à vista do módulo lunar.Para o controle do carrinho, havia um simples controle de mão em forma de T, localizado entre os assentos, de modo que, se necessário, o veículo poderia ser operado por qualquer um dos membros da tripulação. O jipe era capaz de andar a 10/12 kms por hora num terreno suave, de piso duro e nivelado. Pela maioria dos parâmetros terrestres, é no máximo uma velocidade de respiração rápida, mas na superfície lunar enrugada e cheia de crateras, poderia haver e houve riscos com uma frequência divertida. No mínimo, eram passeios aos pulos.Apesar do jipe ter sido originalmente desenhado e desenvolvido para dar aos astronautas mobilidade e alcance, ele também servia como uma plataforma científica. Cada um deles carregava uma câmera de TV colorida que podia ser operada remotamente de Houston. Por causa da alta capacidade de informação do sinal de TV, transmissões só eram possíveis quando a antena de alta voltagem do jipe estava apontada quase diretamente para a Terra e geralmente a câmera só era operada quando o jipe estava estacionado. Quando a tripulação atingia uma de suas estações de trabalho, eles só precisavam de alguns segundos para apontar a antena e começavam a fazer seu trabalho, enquanto Ed Fendell , o operador da câmera no Centro Espacial Johnson, na Terra, usava o zoom e outros acessórios tanto para seguir os astronautas enquanto eles trabalhavam, como para supri-los com informações enquanto esquadrinhava o terreno. E, finalmente, havia bastante espaço no jipe para câmeras fotográficas, rolos de filmes, ferramentas, sacos de amostra, além de uma pequena estação receptora para equipamentos científicos na última das missões, a Apollo 17.E a Apollo 15 foi a primeira das missões Apollo a utilizar este jipe.
Pousando em Hadley Hille

A área de pouso escolhida para a Apollo 15, chamada de Hadley Hille, era de enorme interesse do ponto de vista geológico. O comandante da missão David Scott e o piloto do módulo lunar James Irwin foram escalados para pousar na orla do chamado Mare Imbrium (Oceano das Chuvas), num pequeno vale rodeado por altas montanhas.Durante a descida do Falcon, o pico de 11 mil pés do Monte Hatley Delta ao lado do pequeno vale começou a encher sua janela a frente e à esquerda do módulo lunar; e do outro lado da espaçonave, Irwin podia ver o pico do monte Hatley propriamente dito, um pico redondo de 14 mil pés que domina o horizonte. Para adicionar um toque final de grandeza na cena, por fora da janela esquerda, Scott podia ver a longa e volteada linha de Hadley Rille (Canal Lunar Hadley), um canyon de uma milha de largura em forma de "V", que parecia serpentear para ele vindo do sudeste. O Falcon pousou algumas poucas centenas de metros fora do alvo, mas com a mobilidade que os jipes dariam a ele, um erro de apenas centenas de metros era apenas questão de alguns minutos dirigindo.Depois de pousados, Scott e Irwin deram aos cientistas em Houston uma descrição completa da região em volta. Ao invés de se restringirem a ver a paisagem através de suas janelas da frente, eles colocaram seu capacetes e luvas para o que foi anunciado como uma 'AEV De P'. Eles retiraram todo o ar da cabine e Scott abriu a escotilha superior. Feito isso, ele subiu na cobertura interna do motor de subida, com sua cabeça e braços para fora da espaçonave, se apoiando na abertura enquanto tirava fotografias com uma câmera de 70 mm, equipada com uma longa lente de 500 mm. De pé na escotilha, Scott tinha uma vista clara por toda a área em volta do horizonte.A natureza desnivelada do terreno era, bem mais evidente do que havia sido durante a aproximação e como era de se esperar pela falta de crateras jovens e fundas na área, no campo de visão próximo, Scott não podia ver nenhuma pedra com mais do que algumas polegadas de largura. No campo ao longe, ele teve uma visão clara das montanhas e, tão longe quanto ele podia ver, as ladeiras pareciam ser bem suaves.Após meia hora de descrições verbais e de tirar fotografias, o comandante desceu, fechou a escotilha e, junto com Irwin, começou a retirar sua roupa pressurizada. Pela primeira vez numa missão Apollo, os astronautas iriam dormir com suas roupas de baixo, livres por algumas horas da compressão úmida do traje pressurizado. Eles foram a primeira das tripulações do módulo lunar a ter a chance de se sentirem realmente confortáveis nas redes de dormir; tiveram cerca de cinco horas de sono cada um, muito mais do que qualquer tripulação anterior tinha conseguido.
Passeio de jipe na Lua

Os preparativos para a primeira AEV real foram rápidos. A primeira coisa a ser feita era montar o jipe. Para esta missão, em vez de montar primeiro os experimentos do ALSEP, o conjunto de experimentos científicos levados por cada missão Apollo à Lua, os dois iriam tirar vantagem imediata do jipe e fazer uma viagem geológica de 4 kms até a área onde o canal toca o pé do Monte Hadley Delta. Após montarem e colocarem o jipe lunar em posição para um breve teste de direção, Scott ficou um pouco desconcertado em descobrir que ele não tinha tração nas quatro rodas, mas após alguns minutos brincando com as chaves, decidiu começar os testes, e duas horas e meia após terem começado a despressurização da cabine, ele e Irwin estavam rodando na Lua. O passeio foi tão cheio de solavancos quanto alguém poderia esperar num terreno áspero e sem estradas. A maioria do tempo eles dirigiram a 10 kms por hora, entrando e saindo de crateras, se lançando para cima ou para baixo e rolando de um lado para outro.Na realidade, os saltos e rolagens não produziram nada como a excitação que eles tinham, quando ocasionalmente subiam numa crista e entravam numa cratera grande e jovem o bastante, para dar a eles um solavanco de parar o coração. Frequentemente, Scott não tinha tempo suficiente de reagir e quando eles batiam em alguma coisa , o jipe saltava com todas as quatro rodas pulando fora do chão. Mesmo que Scott tivesse um pouco de cautela, quando ele tentava virar rápido a qualquer velocidade a mais de 5 kms/h, as rodas traseiras tendiam a travar e fazer um cavalo de pau. Ambos estavam muito contentes de estarem usando cintos de segurança.O único problema real que Scott e Irwin tiveram foi em relação a estes cintos de segurança. Antes da missão, ninguém tinha totalmente considerado que, na gravidade lunar, as roupas não se comprimiriam muito quando os astronautas sentassem. Infelizmente, os cintos não poderiam ser reajustados e o ajuste era muito apertado. Ele poderia minimizar a irregularidade do passeio mantendo seus olhos na estrada, dirigindo em linha reta diretamente através das suaves crateras e freando antes de fazer qualquer manobra mais evasiva ou brusca; mas havia sempre o salto forte ocasional. Por causa da fraca gravidade lunar, as oscilações no sistema de suspensão do jipe eram amortecidas mais lentamente do que na Terra e então era sempre aquele passeio aos pulos. Não era uma direção rápida, mas certamente era esportiva e estavam satisfeitos de usarem cintos de segurança. Felizmente, não havia rochas grandes o suficiente para incomodar o jipe nem, como Scott comentou a certo ponto, chances de pegar muito 'tráfego.'Pelo fato da navegação do jipe lunar dar a eles distância e posição do Módulo Falcon, a primeira coisa a fazer para achar um ponto específico do mapa, era descobrir onde eles tinham pousado. Qualquer incerteza sobre a localização do ML se traduziria diretamente numa incerteza sobre a localização do jipe lunar. Scott achou que sabia onde tinha pousado, mas a medida em que dirigiam, Irwin não estava tendo sorte comparando as crateras por onde passavam com as crateras que apareciam no mapa fotográfico. É claro que mesmo que eles soubessem exatamente onde pousaram, a leitura de mapas era difícil porque (1) havia poucas crateras largas ou distintas nas proximidades (2) julgar o tamanho das crateras era propriamente difícil (3) os mapas tinham sido derivados de fotos de resolução relativamente baixa. Então talvez não fosse surpresa que Irwin estivesse figurativamente coçando sua cabeça quando, treze minutos e um quilômetro e meio depois do passeio de carro começar, eles chegaram, inesperadamente, sobre o Canal Hadley. Ficou imediatamente óbvio que eles estavam bem ao norte de onde imaginavam estar. Olhando o curso do canal em direção sudeste, eles puderam ver onde ele se curva pronunciadamente para o leste e, perto da borda, puderam ver o seu alvo imediato, a apropriadamente chamada Cratera Elbow. O primeiro pensamento de Scott foi de que, de algum modo, eles haviam se dirigido muito para oeste, mas no momento os detalhes não importavam. Tão logo eles atingissem a Elbow, as pessoas do backroom (como a Sala de Suporte Científico de Houston era chamada) seriam capazes de usar o alcance e a direção para um lugar conhecido, colocando as coisas em ordem. Nesse meio tempo, Scott e Irwin puderam ver onde queriam ir, então viraram ao sul e dirigiram ao longo da borda do canal lunar. Eles chegaram na Cratera Elbow dez minutos depois.
Panorama Lunar

Durante essa primeira AEV, os dois planejaram gastar um pouco mais de uma hora fazendo trabalho de geologia de campo: quinze minutos na Elbow e o resto na subida perto da cratera St. George. Apesar da comunidade científica não ter ainda desenvolvido uma descrição consistente da evolução lunar, geralmente se acreditou que as Montanhas Hadley se levantaram bruscamente a quatro bilhões de anos atrás, como resultado de um impacto gigante que formou a Bacia Imbrium.Os sítios de pouso das Apollo 11 e 12 tinham amostras representativas de lavas basálticas, respectivamente, do Mar da Tranquilidade e do Oceano das Tormentas; e na cratera Elbow, Scott e Irwin esperavam encontrar amostras de basaltos da Imbrium. E ainda, nas encostas da cratera St. George, geólogos esperavam achar amostras de crosta lunar antiga.Quando Scott e Irwin começaram a trabalhar na Elbow, os astronautas estavam a mais de três quilômetros do ML e ainda tinham abundância de oxigênio, água fresca e tempo para o trabalho de campo. Estavam cheios de sacos de amostras, tubos de núcleo, ferramentas e filmes e, o mais importante, estavam começando o trabalho sentindo-se bem descansados. Por dez minutos eles apanharam rochas e solo, descrevendo objetos que a TV não podia capturar e tirando muitas fotografias.Uma curta distância depois da cratera Elbow, eles começaram a subir o flanco do Hadley Delta. A visão das encostas do Hadley Delta só poderia ser descrita como espetacular. Graças a câmera de TV montada no jipe, Scott e Irwin puderam dividir a imagem com os espectadores aqui na Terra. Longe na distância, o Monte Hadley e as colinas a oeste do canal lunar, davam ao horizonte uma personalidade distinta – perdida nas áreas anteriores de pouso – e forneciam um balanço visual para o sinuoso canal, que se estende ao norte para longe da montanha. Como ainda era manhã cedo em Hadley, a parede leste do canal estava na sombra. Em contraste, a parede oeste, e em alguns lugares, parte do solo, estavam totalmente iluminadas.Graças à pouca resolução da câmera de TV, a audiência na Terra não podia ver todos os detalhes que os astronautas viam. Mas ainda assim era bonito, e em todos os lugares no fundo do canal, o chão estava iluminado com rochas grandes o suficiente para serem vistas por todos. Quando eles terminaram, Scott e Irwin haviam gasto 55 minutos na St. George. Era a mais longa e produtiva parada geológica que já havia sido feita por qualquer tripulação da Apollo. Bem treinados e bem equipados, eles eram capazes de tirar o máximo do tempo limitado e tiveram a ajuda das equipes de Houston que puderam, pela primeira vez, não apenas ouvir o que eles estavam dizendo mas também vê-los trabalhando. Os geólogos na Terra não podiam ver minerais e texturas na rocha mas podiam ver como o trabalho estava indo e, desse modo, oferecer conselhos com credibilidade em tempo real.
De volta ao Módulo Lunar

Quando desceram a encosta com o jipe, Scott e Irwin tinham três opções para voltar ao módulo lunar. Quando eles primeiramente atingiram a estação de coleta da cratera St. George, o controlador de vôo em Houston, Joe Allen perguntou se eles podiam ver suas trilhas ao longo do caminho e Scott informou que ele já havia feito essa checagem na Elbow e não tinham problemas em ver onde o jipe tinha perturbado a antes primitiva superfície lunar. Nesta primeira visita a área, sem outras trilhas para confundir a imagem, não havia dúvidas sobre como encontrar o módulo lunar, seguindo de volta sua própria trilha. E mesmo sem trilhas, as montanhas ao redor forneceram marcos suficientes para que eles pudessem chegar perto do módulo lunar o suficiente para vê-lo. Entretanto, todos estavam interessados em colocar o sistema de navegação do jipe em seu teste supremo e assim que Scott saiu da St. George, ele planeou dirigir, na volta, o máximo em linha reta que as crateras e outros obstáculos permitissem.Na descida da St. George, quando cruzou uma inclinação só um pouquinho mais reta que a que ele estava olhando antes, Scott dirigiu um pouco mais rápido tentando evitar um obstáculo e deu um 180º com o jipe. Scott notou que havia dado então o primeiro "cristo" (quando algum esquiador cai estatelado no chão de braços abertos) lunar. Demorou um longo instante até que ele e Irwin parassem de rir e continuassem. Se havia alguma dúvida residual sobre o sistema de navegação do jipe lunar, ela foi respondida cinco minutos depois de sair da St. George, quando Irwin viu o reflexo do módulo lunar. A espaçonave estava parada lá na frente, um pequeno e rápido vislumbre no horizonte. Era uma visão confortável no meio do deserto.
Problemas de perfuração do solo

Scott e Irwin retornaram ao ML com cerca de 4 horas e 20 minutos de AEV e planejaram gastar o tempo remanescente montando os experimentos do ALSEP. No total, eles planejavam ficar sete horas do lado de fora. Porém, por razões desconhecidas, Scott estava usando oxigênio mais rápido do que se esperava, e quando ele estava de volta ao ML, Houston sugeriu que ele fizesse o mínimo de movimentos desnecessários que fosse possível. Houston ia vigiar de perto o suprimento de oxigênio.Em todos os aspectos, os dois tiveram poucos problemas com a montagem do ALSEP, e, com exceção da perfuração, completaram o trabalho em uma hora e meia. A perfuração do solo lunar, através de aparelhos chamados de tubos de núcleo, era parte fundamental do trabalho de todas as tripulações Apollo, pois este material coletado abaixo da superfície é que proporcionaria a possibilidade de estudo da composição geológica do satélite pelos cientistas da NASA, quando trazidas de volta à Terra. Se as coisas tivessem ido de acordo com os planos, Scott teria gasto uma hora e meia perfurando vários buracos no solo e posicionando os termômetros de circulação de calor, mas quase nada estava funcionando direito com as perfurações. Na Apollo 16, Charles Duke perfurou seu primeiro buraco de circulação de calor até os dois metros e meio de profundidade previstos, em 1 minuto cravado e na Apollo 17, Cernan cavou o seu em menos de três minutos. Porém, tanto Duke quanto Cernan tiveram a vantagem do equipamento que tinha sido bastante modificado, como resultado das melhorias feitas depois da experiência bastante frustrante para David Scott, que levou bom tempo para conseguir perfurar apenas 20 cm de solo.
A segunda AEV

Após uma noite de sono sem os macacões pressurizados, o que tornava tudo muito mais agradável, Scott e Irwin começaram seu segundo dia na Lua dirigindo-se quase diretamente ao sul, através de várias crateras recentes, de tamanho médio, nas encostas baixas de Hadley Delta. A medida que se dirigiram para o sul, a montanha dominava a vista. As encostas mais baixas tinham cerca de 8 a 10 graus de inclinação, mas acima delas os lados da montanha subiam tão alto e tão rápido como as encostas do Monte Fuji, no Japão. Cerca de 300 metros antes que atingissem a base da montanha, notaram que o número de crateras profundas estava caindo bastante e que parecia haver muito menos rochas deitadas na superfícieComo fizeram desde que saíram do ML, eles mantiveram um olho aberto procurando por crateras jovens e pedras redondas na encosta, mas a medida que chegavam mais perto e puderam ver maiores detalhes, havia pouco detalhe a mais para se ver. Além da Cratera Spur, uma jovem cratera de 40 metros de comprimento onde eles planejavam fazer a maior parte da coleta de amostras, o único objeto digno de atenção era uma pedra larga, à curta distância, subindo a ladeira a partir da cratera. Por outro lado, a encosta tinha a aparência de uma praia arenosa, seca, bem gasta, coberta com leves elevações e crateras rasas pouco definidas. Então estacionaram o jipe e se ocuparam com o que mostrou ser uma longa e produtiva parada geológica.
A Pedra Verde e a Rocha do Genesis

Trabalhar na encosta necessitava de certa prática. Sem as roupas, eles poderiam passar o tempo em pé lateralmente num lado da encosta, com a perna de cima um pouco dobrada para mantê-los eretos. Porém, com as roupas rijas de astronauta, era difícil ficar em pé lateralmente numa subida por muito tempo e a maioria do tempo eles precisavam ficar de frente para a montanha e inclinados para ela. Como logo descobriram, trabalhar na encosta só era possível porque o solo era fofo o suficiente para que suas botas afundassem um pouco nele, lhes dando um ponto de apoio extra. Além disso, eles podiam usar algumas vezes uma pequena cratera como degrau ou bancada onde ficar em pé.Após uma hora útil de trabalho basicamente agradável no local, a dupla estava pronta para continuar a jornada. Eles haviam coletado um grande número de amostras, cavaram uma vala e tiraram fotos panorâmicas do Monte Hadley e do módulo lunar na distância.Voltando então ao jipe, o comandante David Scott passou pela pedra larga que tinham visto antes e tirou uma fotografia. Então percebeu que a pedra parecia ter uma cor brilhante verde. Uma rocha verde era novidade para qualquer tripulação Apollo. Scott apanhou alguns fragmentos, que quando foram examinados de volta na Terra, provaram ser cheios de vidro rico em ferro e magnésio, que produziram a tinta verde. Scott também colheu um pouco de solo em volta, que como Irwin notou, também tinha um matiz esverdeado.A Cratera Spur era tão grande que a borda norte propiciava um grande estacionamento quase nivelado, e o trabalho nesta parada foi relativamente fácil. E também foi bastante recompensador. Uma das primeiras coisas que os dois notaram é que estavam de pé em mais solo esverdeado.Com quinze minutos de parada, quando estavam vasculhando a borda para ter certeza que estavam apanhando uma grande variedade de amostras, Irwin notou uma rocha de quatro polegadas que reluzia no solo. Quando olharam mais de perto, não havia dúvidas do que tinham encontrado. Ali estava uma rocha cristalina feita quase inteiramente de mineral plagio-clássico. Aqui na Terra, enquanto Scott e Irwin estavam cuidadosamente ensacando o que viria a ser chamada de A Rocha do Genesis, os analistas não perderam tempo tentando compreender a importância da descoberta.Desde que a 'Grande Corrida para a Lua' havia sido vencida pelos americanos, o interesse na Apollo havia caído rapidamente e a essa altura, tudo que restava de interesse na opinião pública era a questão da história antiga da Lua. As tripulações das Apollo 11 e 12, haviam trazido de volta amostras com as quais os geoquímicos dataram as grandes inundações de lava que formaram o mare (os chamados mares lunares, na verdade, feitos de lava solidificada). O que faltava ser descoberto era um fragmento primitivo da antiga crosta, o material original que formou a Lua, anterior a estes ‘mares’ - formados por impactos de corpos celestes no satélite há bilhões de anos - - e isto se tornou a procura pela "rocha mais antiga". Em alguns pensamentos, a "pedra mais antiga" tomou as características de um Santo Graal ou de uma Pedra de Rosetta e sua descoberta era vista por muitos como a tarefa final do Programa Apollo. Haveria mais dois vôos para preencher os pequenos detalhes; mas no pensamento público, a busca havia terminado. Na área de pouso da Apollo 17, Eugene Cernan e Harrison Schmitt acharam um fragmento até mais antigo da Lua. Porém, a Rocha do Genesis era uma importante peça de um quebra-cabeças e Scott e Irwin estavam satisfeitos com eles próprios. A parada na cratera Spur foi um dos grandes momentos de todo o Programa Apollo.A volta para o módulo lunar foi sem novidades e foi uma boa parada em outro dia ocupado e produtivo. Havia muitas descrições para passar a Houston – descrições das amostras, impressões das áreas e do Monte Hadley, mas isso não era um trabalho físico. De tempos em tempos durante a volta, Scott e Irwin podiam ver o ML à frente deles. Da cratera Spur, cerca de 60m acima em nível do solo, e quase 5 kms de distância ao sul da espaçonave, eles podiam ver a luz do Sol reluzindo por fora do Falcon, os indicadores de direção e distância coincidindo precisamente. Nenhum dos dois se sentia confiante em julgar distâncias ainda. Sem objetos familiares para os ajudarem – árvores, postes telefônicos, casas e outras coisas assim – era quase impossível julgar tamanhos e distâncias durante a viagem de volta, mas não havia nenhuma dúvida sobre o sistema de navegação do jipe lunar. A 2,4 quilômetros de distância – de acordo com o sistema de navegação – eles começaram a ver detalhes do ML. Quatro horas após terem saído para as montanhas, eles estavam de volta ao Falcon, mais ricos de 40 quilos de solo e rochas, para outra boa noite de sono.
A última AEV Por causa dos problemas de perfuração e pelo número de tarefas novas nessa missão, após a segunda atividade extra-veicular, Scott e Irwin estavam uma hora e quarenta minutos atrasados com relação aos prazos da missão. Quando eles subiram de volta ao ML, faltavam apenas 22 horas antes que tivessem que voltar para a órbita da Lua; e nesse curto período ainda tinham que completar as últimas tarefas dentro do ML, dormir, fazer a terceira AEV, e quatro horas após voltar ao ML pela última vez e subir para o encontro em órbita com 'Al' Worden. Eles estavam curtos de tempo e como Houston insistia tanto numa decolagem pontual, quanto num período de total descanso noturno, a terceira AEV teria que ser encurtada.Duas horas e meia após acordarem, Scott e Irwin haviam terminado o café da manhã - vale ressaltar que o "café da manhã" dos astronautas, assim como as outras refeições do dia, era composto apenas de pastas desidratadas com gostos diferentes de comida, misturadas a água quente na hora de serem consumidas e sugadas de dentro de um saco plástico embalado a vácuo, "comida" essa, odiada por todas as tripulações da Mercury, Gemini e Apollo, além dos russos da Vostok e Soyuz, que "comiam" grãos triturados em sacos de pressão. São inúmeras as histórias de astronautas que escondiam sanduíches de presunto e pasta de amendoim dentro de seus macacões para comer no espaço. Só com a entrada em operação dos ônibus espaciais dez anos depois, a comida no espaço passou a ser parecida com a consumida aqui na Terra. O Ônibus Espacial possui uma cozinha, onde comida congelada desidratada é estocada e esquentada na hora das refeições. Entre as milhares de vantagens e comodidades que os programas espaciais trouxeram à humanidade sem que ela percebesse, o hoje banal forno de microondas, foi desenvolvido pela NASA no fim dos anos 1970, para equipar a cozinha do ônibus espacial, permitindo aos astronautas pela primeira vez comerem decentemente - e a medida que ouviram os planos de Houston para o dia, começaram seus preparativos para a última AEV. Nas primeiras tres horas, eles iriam seguir o plano da missão e dirigir para oeste até o grande canal, para colher amostras e tirar fotos. Três horas após se levantarem, Scott e Irwin estavam de novo na superfície.
O canal lunar Hadley

Com uma hora e meia em AEV, eles finalmente estavam a caminho. Agora que sabiam quase exatamente onde tinham pousado, eles sabiam que o passeio ao canal lunar seria rápido, uma viagem de cerca de dois quilômetros que levaria de dez a quinze minutos, dependendo do tipo de terreno que encontrassem. Durante a AEV de pé, dentro do ML, Scott tinha dado uma boa olhada na região em volta, exceto no oeste. Pela mesma razão pela qual a equipe da Apollo 12 tinha sido lenta para descobrir a Cratera Head, assentada quase embaixo do Sol deles, Scott também não foi capaz de ver muitos detalhes na direção do canal, e agora que estavam dirigindo em direção oeste, ele e Irwin só podiam imaginar que iriam encontrar o mesmo tipo de terreno que haviam encontrado ao sul do ML. Ao longo da seção do canal que Scott e Irwin estavam se aproximando, a borda do oeste é cerca de 30 metros mais baixa que a borda do leste, e foi somente em alguns pontos da travessia que os dois tiveram rápidas visões da distante parede. Nos últimos 200 ou 300 metros de aproximação, a superfície gentilmente caía através de uma linha de pedras cinza-brilhante que marcavam um aparente limite, e a medida que eles se aproximavam, o número e tamanho das rochas que eles viam aparecendo através do solo aumentava constantemente. Muito antes da Apollo 15, uma certa quantidade de indícios havia sugerido aos geólogos que o Canal Lunar de Hadley era um canal de lava drenada – ou um túnel drenado – esquecido pelo tempo enquanto o "mare" se formava. Do seu poleiro no limite do canal, Scott e Irwin foram capazes de ver, descrever e fotografar as camadas na parede distante. As limitações de tempo e equipamento os impediu de fazer o equivalente a uma viagem pelas trilhas do Grand Canyon, para uma olhada de perto no interior de um canal lunar.A partida da Lua estava apenas cinco horas e meia a frente e ainda havia procedimentos a serem feitos no módulo para a decolagem. De certa maneira, a Apollo 15 foi o último dos vôos de engenharia. Na Apollo 11, Armstrong e Aldrin provaram que um pouso podia ser feito e a dupla de astronautas pôde ir à superfície e fazer um trabalho útil de exploração. Na Apollo 12, Charles Conrad e Alan Bean provaram que o módulo lunar podia descer com precisão num alvo pré-escolhido e que não havia nenhum problema real em trabalhar na Lua por várias horas. Alan Shepard e Edgar Mitchell, na Apollo 14, mostraram que no caso de uma quebra do jipe lunar, uma tripulação poderia voltar ao ML caminhando uma distância considerável. E restou a Scott e Irwin colocar o jipe para andar e demonstrar que o ML, as roupas, o equipamento de sobrevivência e eles mesmos, poderiam aguentar uma visita de três dias à superfície lunar.
Os frutos da missão

No fim da missão Apollo 15, ficou claro que após três dias muito ativos, Scott e Irwin não excederam nenhum limite prático na duração de uma missão Apollo. Houve alguns pequenos problemas com o equipamento e, como mais tarde demonstrado com as Apollo 16 e 17, uma acumulação de pequenas falhas era inevitável. Talvez eles tivessem se aproximando de um limite. No fim da primeira AEVatividade extra-veicular, David Scott esqueceu de abaixar a pequena antena em cima do equipamento de sobrevivência de Irwin e ela quebrou quando ele se arrastava através da escotilha. Eles conseguiram consertá-la com fita adesiva, mas o acidente ilustrou o que poderia e iria acontecer com o tempo.A poeira era um problema contínuo e apesar dos melhores esforços de um limpar o outro no fim dos passeios lunares, a cabine ficava cada vez mais suja. Eles colocavam a segunda pele das roupas em sacos para ajudar a controlar a poeira e toda noite, limpavam e lubrificavam os zippers e os anéis do pescoço e dos pulsos da roupa. Todavia, os fechamentos eram um obstáculo maior a cada dia que passava. Do lado de fora, a poeira entrava em toda parte não selada que se movia e apesar da tripulação não ter experimentado nem os problemas de ferramentas, nem a quantidade de poeira no jipe, relatados por missões posteriores, eles acumularam arranhões nos visores, e como a poeira cobria quase tudo, tiveram problemas lendo escalas. Estes pequenos problemas serviram como avisos para aqueles planejando missões mais ambiciosas. Entretanto, no contexto da Apollo, Scott e Irwin demonstraram que tres dias na Lua eram possíveis e que havia todas as razões para esperar um sucesso ainda maior nas missões restantes.
O Caso dos Selos

Um último acontecimento digno de nota marcou a história da tripulação da Apollo 15. Preocupados com o fato de que seu salário como astronautas seria insuficiente para cuidar do futuro de suas famílias, David Scott, Alfred Worden e James Irwin resolveram levar para a Lua selos oficiais com o logotipo da missão ,escondidos no módulo lunar e os carimbarem sob a paisagem das Montanhas Hadley, esperando que pudessem ganhar bastante dinheiro na volta, vendendo selos que haviam estado na Lua, carimbados e assinados por sua própria tripulação, garantindo assim ao menos os estudos universitários de seus filhos. De volta à Terra, a NASA descobriu seu pequeno truque e todos foram punidos por atentar contra os princípios da agência, tendo sua carreira como astronautas interrompidas e sendo designados apenas para funções burocráticas em terra.Nos anos 1980, durante a era do ônibus Espacial, a NASA resolveu enviar ao espaço uma grande coleção de selos do Programa do ônibus espacial, numa das missões da nave Columbia, com a intenção de vendê-los ao público geral no retorno. Alfred Worden, o piloto do módulo de comando da Apollo 15, que havia sido punido pelo mesmo motivo quinze anos antes, entrou então na justiça contra a NASA que, sabendo que perderia a causa, devolveu finalmente os selos da Apollo 15 à sua tripulação.
Fatos marcantes

Um aspecto pitoresco da missão foi o experimento que o astronauta David Scott executou na superfície da Lua, para comprovar uma teoria de Galileu Galilei. Ele deixou cair uma pluma e um martelo e constatou que, na ausência de ar, ambos chegavam juntos ao solo. Durante o vôo de retorno, Worden tornou-se o primeiro homem a executar atividade extra-veicular fora da órbita terrestre.

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