quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cachimbos indígenas


Por Thomas Bruno Oliveira e Erik Farias de Brito*

No dia 15 de junho, o repórter Hilton Gouvêa publicou no jornal A União uma interessante matéria sobre um cachimbo de barro cozido que foi encontrado no brejo da Paraíba, mais precisamente no interior do município de Araçagi, que atribuiu aos povos pré-históricos daquela região brejeira. O cachimbo, cuja figura ilustra a matéria, foi feito de argila escura, apresenta detalhes decorativos em relevo e uma espécie de sustentáculo furado, em sua base, podendo ser assim facilmente amarrado ao pescoço.
Segundo estudos da arqueologia, de maneira geral, os cachimbos indígenas podem ser divididos em dois tipos: os tubulares, que se apresentam num mesmo corpo, entre o receptáculo de tabaco e o tubo; e os angulares, compostos apenas de chaminé em barro e o tubo - pelo qual se aspira o fumo - é adereço feito de madeira.
O cachimbo do tipo tubular não sabemos se eram utilizados pelos Tupi, mas, certamente, foi largamente utilizado pelos Cariri. Esta afirmativa tem como base o relato de Marcgrave, que diz que estes indígenas em Pernambuco “usavam tubos retos, largos, de madeira ou de argila, tão amplos que podiam conter uma inteira mão de tabaco, chupavam o fumo desse tubo cheio de tabaco aceso”. Segundo Estevão Pinto, entre os desenhos de selvagens brasileiros, existentes no Museu Etnográfico de Copenhague, do século XVII, outrora pertencentes à coleção do príncipe Maurício de Nassau, figura o de um tapuia fumando um longo cachimbo. Jean de Léry também alude sobre tais cachimbos tubulares usados pelos Caraíbas em certas cerimônias. Este tipo de cachimbo parece ser o mais antigo e difundido na América. Na Paraíba, o pesquisador Leon Clerot encontrou um cachimbo tubular confeccionado em barro.
Quanto o cachimbo de Araçagi, este é do tipo angular. Deve-se discutir sobre a origem pré ou pós-cabralina deste cachimbo. Segundo afirmam muitos, esta forma teria sido introduzida no Brasil pelos europeus. Embora, hoje em dia, já se admita que o cachimbo angular entre algumas tribos indígenas brasileiras setentrionais remonte à influência extra-americana, entre outros indígenas da região de Santarém constitui um elemento cultural puramente ameríndio.
Portanto, embora estes cachimbos angulares encontrados no Nordeste mais possivelmente remetam influência transatlântica, por serem encontrados sem contexto ou em locais de aldeamentos pós-contato e terem sido largamente utilizados até fins do século XIX, também podem representar difusão cultural importada da região amazônica ainda no período anterior à chegada dos europeus.

História UEPB / Sócio da SPA, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Arqueologia Histórica e Industrial – GEPAHI e Sócio-Honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano – IHGC / Estudante secundarista*

Fonte: http://www.brejo.com/b8/ler.coluna.php?ArtID=408

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