quarta-feira, 12 de maio de 2010

Gravuras rupestres no vale do Araçagi

Por Vanderley de Brito*
As gravuras que pretendemos tratar no presente trabalho se apresentam na zona inferior da encosta oriental da Borborema, no Brejo, já nos limites de confina com a zona dos Tabuleiros, entre Guarabira, Araçagi e Pipirituba. Uma acidentada região de várzeas com nevoeiros densos e favorecida pela umidade constante. Por onde domina o rio Araçagi e seus afluentes.
As gravuras rupestres da área em estudo, cuja maioria apresenta-se no tributário Araçagi-mirim, recobrem granitos aflorados nas margens e leitos dos cursos hídricos. Principalmente aqueles afloramentos onde se apresenta um marco identificativo, como um matacão isolado no topo, ou cuja magnitude lhe ofereça destaque na paisagística. Nesta região, em específico, há dificuldades em identificar inscrições rupestres, mesmo para os mais experimentados. Pois estas, apesar de serem realizadas com relativa semelhança técnica e gráfica com as inscrições existentes na célebre Pedra do Ingá, demonstram pouca visibilidade por estarem em rochas graníticas ásperas e de grânulos fortes. Fator que não permitiu o polimento eficiente e, por conseqüência, facilitou a adesão de micro-organismos. Assim, estas pedras são completamente recobertas de uma pátina negra, inclusive o interior dos sulcos, e para serem evidenciados se faz necessário molhar a pedra enegrecida para realçar os baixo-relevos.
Periodicamente, estes registros rupestres são soterrados pela areia que assoreia estes riachos perenes, só vindo a reaparecerem num novo ciclo e por pouco tempo. Isto dificulta ainda mais a identificação destes locais que, nesses períodos de depósito de aluvião estagnada, só são reconhecidos devido os marcos que destacam os rochedos na paisagem, efeito da seletiva de seus executores.
Os registros rupestres do vale do Araçagi caracterizam-se por símbolos grandes, de até 80cm, e retilíneos encimados por círculos ou formas ovóides. Também são muito presentes as incisões capsulares formando conjuntos ordenados, motivos florais ou linhas filiformes. Sob técnica que chamamos de meia-cana, os sulcos atingem em média 3cm de largura e 1,5cm de profundidade e os capsulares tem, em média, 8cm de circunferência e são perfeitamente circulares, como que se fossem realizados por pressão circular contínua do cinzel.
A região vem sendo estudada desde a década de 1990 pelos pesquisadores da UEPB Carlos Belarmino, Juvandi de Souza Santos e Jackson Amâncio, que já trouxeram à tona um grande acervo de sítios identificados e objetos de pedra polida recolhido a esmo. Contudo, ainda há muito por se descobrir sobre os primitivos grupos desta região tão fértil e propícia para o estabelecimento de sociedades agrárias.

*Historiador e pesquisador

Fonte: http://www.brejo.com/b8/ler.coluna.php?ArtID=379

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