quarta-feira, 12 de maio de 2010

O rito das itacoatiaras


Genericamente são conhecidas por itacoatiaras os penedos onde existem inscrições rupestres gravadas em baixo relevo. A denominação deriva da língua tupi: ita = pedra + kwatia= riscada, o que significa pedra com inscrições. Estas existem tanto na América quanto no Velho Mundo. No Brasil, segundo a pesquisadora espanhola Gabriela Martin, elas estão disseminadas de norte a sul.
Uma característica peculiar desta manifestação gráfica pré-histórica é sempre estar associada às águas, insculpidas em rochas nas imediações de rios, riachos, córregos, lagoas ou tanques de pedra. Devido sua localização próxima a fontes hídricas, são muitos os pesquisadores que sugerem estarem relacionadas à água. Talvez registrando as estações, rendendo culto ou dirigindo súplica aos poderes distribuidores da chuva.
Os mais de uma centena de lugares com gravuras rupestres que conheço na Paraíba sugerem que este relacionamento espacial, entre as itacoatiaras e meios hídricos, pode não representar uma relação ritual dirigida às águas em específico. Há muitos indicativos simbólicos que sugerem relações com a astronomia, à reprodução e à agricultura. Na famosa Pedra do Ingá, por exemplo, há sinais sugestivos à estas relações.
Aqueles que defendem que as gravuras rupestre estão diretamente relacionadas às águas, baseiam-se no fato das itacoatiaras estarem sempre situadas próxima a este recurso e, também, por algumas apresentarem desenhos sinuosos que são interpretados como representações do movimento da água. Argumentos que, diga-se de passagem, são frágeis e arbitrários.
Minhas pesquisas indicam que as itacoatiaras são realizadas em períodos de estiagem, isso porque a maioria das gravuras rupestres ficam parcialmente submersas no inverno. Outra particularidade observada em itacoatiaras é que são realizadas imediatamente próximos a locais que armazenam águas por um longo período de seca, a exemplo de caldeirões, poços e tanques. Ou seja, era necessário haver água no local a ser gravado mesmo na estiagem.
Com base nesses indicativos, a argüição que me ocorre é que a água não era, necessariamente, o elemento a que o culto se propunha, mas sim, um componente necessário à operação de gravar em pedra. Principalmente na hora de polir, onde água se faz essencial para o composto de abrasão. Assim, com base na semiologia e na estação equinocial que são feitas, é mais plausível que as itacoatiaras representem uma manifestação de sociedades agrícolas e manifestem ritos de implicações geórgicas.

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