quinta-feira, 13 de maio de 2010

Considerações Paleontológicas da Paraíba

O Programa de Conscientização Arqueológica- PROCA, tem seus estudos voltados principalmente para os vestígios arqueológicos paraibanos, a paleontologia, ciência que estuda os animais e vegetais fósseis, definitivamente não é o forte da instituição.
No entanto, devido a grandiosa riqueza de jazidas fossilíferas no Estado da Paraíba, a falta de uma organização que se encarregue deste testemunho e, principalmente, os frequentes saques de material fóssil que ocorrem no Estado desde há muito tempo, nos vimos obrigados a contribuir, também, na preservação deste bem nacional, catalogando as ocorrências que nos são notificadas e desenvolvendo um processo de educação preservacionista junto às comunidades.
O nosso programa também procura incentivar as prefeituras paraibanas no sentido de criarem museus ou mesmo depósitos públicos para armazenar as eventuais peças fósseis que tenham sido retiradas de seu contexto, numa política de manter o acervo paleontológico em seu município de origem.
O termo fósseis, designa quaisquer restos ou vestígios deixados por seres animais ou vegetais, de qualquer tamanho ou natureza, que tenha vivido nas águas ou na superfície continental antes de 5.000 anos e que, após a morte, tendo sido soterrados por sedimentos, chegaram a se preservar nos mesmos, durante milhares ou milhões de anos.
Ainda podemos entender como fósseis, vestígios ou marcas deixadas nas rochas por organismos pré-históricos, mesmo que hajam desaparecido todas as porções que compunham tais organismos. Inclusive seus esqueletos internos ou externos. Assim, são considerados fósseis, as impressões da forma externa e interna desses organismos. No município de Pedra Lavrada, na Paraíba, existe a impressão de uma planta fóssil em rocha dolomita proveniente do sítio Quixaba que encontra-se em poder da prefeitura local .
As impressões de marcha ou rastejo de um organismo podem se conservar numa areia úmida ou lama, como é o caso do Vale dos Dinossauros em Souza, que também são considerados fósseis.
Os fósseis são significativamente importantes para esclarecer o passado remoto do planeta e suas formas de vida. Para citar um exemplo bem próximo à nossa realidade, bastaria lembrar que os ouriços e cefalópodes fósseis encontrados nos terrenos cretáceos que compreendem o norte de Recife e sul de João Pessoa, em rochas hoje constituindo terra firme e distanciadas cerca de 20km do mar atual, indicam que na época em que viviam tais animais, ou seja há aproximadamente 75 milhões de anos, as nossas praias ocuparam posição bem mais ocidental que hoje. Em outras palavras, o mar cobria a região agora continental onde são encontrados tais ouriços e cefalópodes fósseis.
Toda o território da Paraíba é extremamente rico em restos ósseos de grandes mamíferos que viveram no período pleistoceno e desapareceram há cerca de 10 ou 12 mil anos. Segundo os estudos do geólogo e paleontólogo José Augusto Almeida da UFPB, na época em que estes estranhos animais viviam na região, a paisagem era parecida com uma savana, com árvores ricas em folhas, campos de gramínias e muitos corpos de água para sanar a sede de tantos e avantajados habitantes. A extinção desta fauna estaria relacionada a escassez alimentar, provocada por uma gradativa mudança climática, que, ao longo de milhares de anos, tem deixado a região cada vez mais seca.
Desde o século XVIII são registrados achados de ossos fósseis, os primeiros estudos de fósseis na Paraíba foram iniciados em 1796, quando o naturalista Manuel Arruda da Câmara encontrou o fóssil de um mastodonte e tornou o Estado o pioneiro na paleontologia no país. Testemunhos da fauna pleistocênica, soterrados em tanques de pedra ou antigas lagoas do interior paraibano. São bizarros esqueletos que tem chamado a atenção de muitos pesquisadores interessados nos estudos de animais extintos.
Os fósseis de mamíferos pleistocênicos geralmente são verificados em depósitos de sedimentos, aprisionados em depressões implantadas nas zonas de fraqueza das rochas cristalinas, as quais denominamos de tanques, ou no sedimento de fundo de lagoas secas. Tais descobertas, geralmente se dão quando se faz a limpeza destes tanques para aumentar sua capacidade de armazenamento de águas meteóricas ou quando se cavam pequenos açudes e cacimbas em locais onde existiram lagoas no passado. Estes esqueletos, quando encontrados em tanques, geralmente apresentam apenas fragmentos ósseos, quebrados e desgastados por sofrerem remanejamento de águas torrenciais, enquanto os encontrados em fundos de lagoas, apresentam sua formação quase intacta.
Em muitos pontos do planeta desenvolveram-se animais de tamanho colossal a partir do período cretáceo, quando os répteis deixaram de existir e os mamíferos assumiram a hegemonia, mas na América do Sul, surgiram formas de vida especialmente extravagantes. Sabe-se hoje que durante 70 milhões de anos a América do Sul foi uma ilha na qual as espécies aborígines evoluíram isoladas do resto do mundo. Quando o istmo do Panamá se ergueu, deu-se a grande migração do Pleistoceno, onde animais vindos do norte, ocuparam a América do Sul e vice-versa. Inúmeros testemunhos desta magnífica fauna encontra-se mineralizada nos tanques e lagoas paraibanas, muitas vezes associadas a artefatos de pedra produzidos por homens que coexistiram com esta fauna e, consequentemente, se especializaram na caça destes mega- animais.
Alguns exemplares de origem sul americana mais difundidos pelo interior da Paraíba são; o Megatherium, espécie de preguiça terrícola cujos maiores exemplares atingiam 6m de altura. Há informações de que encontrou-se um crânio deste animal no município de Catolé do Rocha e muitos fragmentos de seu corpo foram identificados no sítio Manoel Justino, em Caturité; no sítio Torre, município de Ingá e no Sítio Quarenta em Boqueirão e muitas outras localidades no Estado; o Macrauchenia, um gigante quadrúpede contemplado com um pescoço de camelo e um tronco de elefante, fragmentos exemplares deste animal foram escavados no município de Taperoá; o Glyptodonte, animal dotado de uma couraça e cabeça retrátil, na Paraíba, existe um exemplar completo deste animal encravado em rocha na margem direita do riacho Gravatá, município de São Domingos do Cariri, no sítio Bravo em município de Boa Vista e sítio Balanço no município de Prata, foram resgatados pedaços fósseis de sua carapaça ; e o Toxodonte, um grotesco animal que muito se assemelha com o hipopótamo, de hábito anfíbio, seus vestígios foram encontrados no sítio Cinco Lagoas, município de Casserengue.
Dentre os animais oriundos de outros continentes, na Paraíba viveram abundantemente espécies como; o Mastodonte, um parente próximo dos atuais elefantes,cujo seus restos foram resgatados na Lagoa da Capivara, município de Solânea, Lagoa de Pedra em Esperança, Tanque do Saco em Serra Branca, Cinco Voltas em Umbuzeiro, Cinco Lagoas em Casserengue e existe uma presa deste animal no acervo municipal de Pedra Lavrada e outra no município de Puxinanã; e o Smilodon, o terrível Tigre- Dente- de- Sabre, um felídeo de porte superior ao da maior onça conhecida e possuía dois caninos superiores descomunais e encurvados, que chegavam a medir cerca de 30cm de comprimento. Foi encontrado um exemplar de sua presa no município de Boqueirão, no sítio Quarenta, em meados da década de 90.
Além dos inúmeros jazigos fósseis da mega- fauna do pleistoceno, a Paraíba também se mostra extremamente rica em fósseis de épocas ainda mais remotas. A exploração do calcário para o fabrico de cimento e cal no litoral paraibano, tem revelado formações cretáceas com fósseis, é registrado que já em 1889, H. G. Sumner, superintendente da Estrada de Ferro Conde d’Eu, colecionou nas pedreiras próximas a capital inúmeros exemplares, que doou ao geólogo John Casper Brenner. Entre os fósseis cretáceos paraibanos, coletados no litoral, predominam os invertebrados (crustáceos, moluscos e equinodermos). Os vertebrados, resumem-se a quatro espécies de peixe , um réptil e um Pterossauro. Quanto a fósseis de vegetais, só se conhece do cretáceo paraibano , o fruto de uma palmácea do gênero Palmocarpon, proveniente dos calcários do rio Gramane. Em algumas pedreiras calcárias situadas dentro da cidade de João Pessoa,as quais destacamos a da Fábrica de Cimento Zebu, a do Roger e a de Mandacaru, podem ser coletados fósseis tais como: dentes de tubarões referidos ao gênero Squalicorax; moluscos cefalópodes dos gêneros Pachydiscus e Sphenodiscus; moluscos lamelibrânquios dentre os quais se destaca o gênero Pinna; caranguejos do gênero Zanthopsis.
Em 1954, uma escavação superficial feita na propriedade Árvore Alta, no distrito de Alhandra, município de João Pessoa, foi descoberta uma Amonite gigante, espécie de molusco cefalópode, que foi enviada ao Serviço Nacional de Produção Mineral.
Da extremidade ocidental da Serra de Cuité, na camada de sedimentos que capeiam a serra, ocorrem sílica cristalizada com numerosos moluscos de uma única espécie completamente silicificados. A idade dos capeamentos é considerada cretácea. A mesma natureza de ocorrência, é verificada no sítio Canoa de Dentro no município de Pedra Lavrada. Outra ocorrência cretácea na Paraíba, certamente a mais conhecida, é o Vale dos Dinossauros, no município de Souza, uma trilha de pegadas fossilizadas na lama endurecida do fundo de uma imensa lagoa que existiu no período infracretáceo e que hoje abrange desde Souza até o município de São João do Rio do Peixe, testemunhando um intenso trânsito de grandes répteis extintos no sertão paraibano. Além destes importantes restos, a mesma rocha contém lamelibrânquios referidos ao gênero Diplodon.
Apesar de existir uma legislação que visa proteger os jazigos fossilíferos brasileiros, na Paraíba, desde pelo menos o século XVIII, são saqueados os sítios paleontológicos de nosso Estado. Na maioria, senão 99% dos sítios notificados, já ocorreram saques criminosos de fósseis. As informações dos residentes locais são sempre vagas sobre os responsáveis, mas sempre surgem depoimentos de que saíram carros carregados de fósseis sem que se saiba o destino. Recentemente, obtivemos uma informação oral de que no município de Algodão de Jandaíra, um “pesquisador” teria levado um feto fóssil de Megaterium.
A providência a ser tomada quando acontecer de alguém vindo de fora, querer levar fósseis de uma localidade, mesmo que ajam muitos, é não permitir sua retirada alegando que tratam-se de patrimônio da união. Caso a pessoa não se intimide, a polícia local deve ser acionada. Só é permitido a pesquisa e coleta de material fóssil em território brasileiro se for autorizada e fiscalizada pelo Departamento Nacional da Produção Mineral, do Ministério da Agricultura Infelizmente, a legislação de proteção ao patrimônio fossilífero brasileiro é ineficaz, de qualquer maneira, a simples existência do decreto-lei n0 4.146, assinado em 4 de março de 1942 pelo então presidente da república, Getúlio Vargas, que estabeleceu serem os depósitos fossilíferos propriedade da Nação e passíveis de proteção, indica a preocupação histórica com os riscos de depredação a que sempre esteve submetida essa riqueza. Resta a nós, cidadãos, contribuir de forma preventiva.
No município de Prata foram identificados dois sítios pleistocênicos de valor paleontológicos, ambos em tanques naturais de pedra, onde foram resgatados inúmeros fragmentos fósseis de animais mamíferos da megafauna. Um na localidade de Paraíso, onde os ossos apresentaram-se em grandes fragmentos porosos e leves, e outro nas adjacências do povoado de Balanço, onde os fragmentos fósseis mostraram-se muito fragmentados, entretanto mais consistentes e enegrecidos pelos componentes orgânicos presentes no reservatório.

Prof. Vanderley de Brito

Fonte: http://www.prata.pb.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4&Itemid=51

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